O brutal assassinato de George Floyd em Minnesota, nos Estados Unidos, pela polícia colocou, mais uma vez, a questão do racismo em evidência. Passeatas e manifestações de repúdio ao episódio explodiram no mundo inteiro, revelando que há motivo para esperanças e que podemos — e devemos — acreditar que o sonho de Martin Luther King se tornará realidade. Que as pessoas um dia não serão julgadas pela cor de sua pele, mas pelo seu caráter. Houve avanços? Sim, sem dúvida. Mas uma série de indicadores deixa evidente que ainda há muito a ser feito.
No informativo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, o IBGE indica que entre 2012 e 2017 foram registradas 255 mil mortes de negros por assassinato no país. Em termos de proporção, os negros têm 2,7 mais chances de se tornarem vítimas de homicídio do que os brancos. O Atlas da Violência de 2019, estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, confirmou essa tendência ao mostrar que, no ano passado, 75,5% das pessoas assassinadas no país eram negras — a maior proporção da última década.
O preconceito também é perceptível no mercado de trabalho. Em 2018, os trabalhadores brancos ganhavam, em média, 73,9% a mais do que os trabalhadores pretos ou pardos. E recebiam, em média, 27,1% a mais do que as mulheres. Esse cenário foi identificado pelo IBGE na pesquisa Síntese de Indicadores Sociais — Uma Análise das Condições de Vida da População Brasileira: 2019, lançada em novembro passado. De acordo com dados divulgados em fevereiro deste ano, a taxa de desocupação da população autodeclarada negra em 2019 ficou acima da média nacional (11%), alcançando 26,1%. Os dados constam da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE.
O contingente de negros sem emprego era então de 13,5%, entre pretos, e de 12,6%, entre pardos. Outro indicador preocupante: dos 2,6 milhões de estudantes de ensino fundamental ou médio reprovados em 2018, 48,41% eram negros (pretos ou pardos). Segundo estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o número de reprovados nesse grupo é duas vezes maior que o de brancos, somando, em 2018, mais de 1,2 milhão de estudantes reprovados. Não podemos nos acostumar com esses dados. Não podemos perder a capacidade de nos indignarmos com a desigualdade. Essa indignação não pode existir apenas quando um homem negro é asfixiado até a morte. Chega de asfixia.
Os números expõem a existência do racismo estrutural no Brasil, mas o que falta para sairmos da apatia?