Outra consequência negativa para o governo com o avanço do coronavírus no país é o desgaste da imagem do presidente Jair Bolsonaro. A ocorrência de panelaços em redutos de classe média e de classe média alta, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro, sugere que a parcela do eleitorado que votou em Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, mas não é bolsonarista convicta, pode ter mudado de lado.
Segundo monitoramento realizado pelo Departamento de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as interações das postagens no Twitter a favor do presidente caíram de 12,5 milhões para 6,5% até a última quarta-feira (18).
Essa perda de apoio nas redes sociais também foi captada pela empresa Bites. Segundo o levantamento, realizado durante a participação de Jair Bolsonaro no programa do Ratinho (21), a maioria das menções no Twitter ao presidente foram sobre sua fala classificando o coronavírus como uma “gripezinha” (46.732 menções) e a exames da pandemia não divulgados por Bolsonaro (83.753 menções).
Segundo a Bites, esse fluxo negativo também ocorreu no Google, já que a maior parte das pesquisas realizadas sobre Bolsonaro estava associado à ideia de que o presidente se recusa a mostrar os seus exames do Covid-19, a sua declaração sobre a “gripezinha” e a disputa política com os governadores João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ).
Ao que tudo indica, o ponto de inflexão no comportamento da opinião pública foi a participação de Bolsonaro nas manifestações contra o Judiciário e o Legislativo no dia 15 de março.
Esse movimento do presidente pode ser considerado uma espécie de marco nessa virada da opinião pública nas redes. Mas, mais do que o apoio ao protesto de grupos conservadores radicais, teve grande peso o contato físico do presidente com seus apoiadores, em meio às determinações do Ministério da Saúde e de especialistas para que se evitem aglomerações e contato com o público por conta da pandemia.
Também contribuiu para o desgaste da imagem de Bolsonaro a minimização do fator coronavírus. Embora o governo tenha voltado atrás e agora reconheça a gravidade da pandemia, o presidente está jogando na defensiva, como ficou evidenciado na coletiva realizada na semana passada. A imagem de Jair Bolsonaro e de seus ministros usando máscaras sugere que “a ficha” só caiu tardiamente no Palácio do Planalto.