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O Mercado Financeiro e a Política

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De uma forma geral, até bem pouco tempo atrás, o mercado financeiro não costumava se interessar por aspectos da evolução política de nosso país. Os ocupantes das mesas do mercado  internacional pediam números, curvas, tabelas, com relativo interesse por eleições estaduais, formação de bancadas etc.

Mas isso vem mudando. É o que observo quando tenho que responder a novos questionamentos envoltos em um misto de curiosidade e surpresa em quase todas as conversas que mantenho atualmente com Londres e Wall Street.

O interesse internacional pela  nossa política era dividido entre três aspectos: as iniciativas do Executivo, o grau de celeridade do Legislativo e a influência da corrupção no processo de tomada de decisões. Quando um fundo analisava determinada empresa ou o valor de determinada ação, esses três fatores eram  dissecados e aplicados a todo o processo de avaliação do tema.

Nos últimos anos, o Brasil vem se tornando um país mais visado e analisado.   As iniciativas do Executivo passaram a ser observadas em maior detalhe a um ponto em que, atualmente,  alguns Ministérios sejam até vistos como se fossem “governos independentes”. Existem, por exemplo, fundos interessados apenas na dinâmica política do Ministro Tarcísio Freitas/ Ministério da Infraestrutura ou em Paulo Guedes/ Ministério da Fazenda.

Incrivelmente, agora é possível passar por longas conversas telefônicas com alguns fundos sem mencionar o Palácio do Planalto, o que me faz dizer que começa a existir um certo  sentimento de “independência de iniciativas” em relação aos órgãos governamentais.

Essa “independência de iniciativa”, no entanto, precisa ser transportada até o Legislativo. Antes de tomar suas decisões, o investidor quer conhecer a celeridade ou a baixa velocidade do Legislativo  no encaminhamento de diversos projetos. Além disso, ter ideia sobre a disposição do Legislativo em dialogar, cooperar e ouvir o Executivo também passou a ser um tema frequente. Existem conversas cada vez mais comuns com fundos bilionários que mais soam como um debate sobre dinâmicas de um governo parlamentarista do que presidencialista. O Legislativo possui inúmeras camadas e categorias de tomadores de decisão e formadores de opinião.  Muitas vezes esses núcleos não agem coordenadamente na relação com o Executivo, adensando a sensação da incerteza e aumentando a percepção do risco para quem está vendo isso de longe.

A  percepção sobre o fator “corrupção” não sumiu, apenas está mudando.   Levará anos para que o Brasil seja percebido como um país transparente. A Lava Jato diminuiu a percepção de impunidade e demonstrou que o país consegue, pelo menos em alguns níveis, atacar a corrupção. Para o investidor, isso é excelente notícia. Porém não é ainda o suficiente para que o Brasil seja considerado como um país completamente amigável.

As oportunidades que o país oferece para quem tem paciência são enormes e prometem boas recompensas. O investidor que já possui histórias de sucesso conosco, ou mesmo laços emocionais, tende a apostar com mais afinco e a buscar compreender melhor o ambiente no qual  está entrando. Esse investidor é estudioso e perguntador. Mesmo que ainda lhe falte uma certa dose de paixão política e sobre espaço para uma leve desconfiança de tudo e de todos.

Se os cronogramas  forem mais precisos, os planejamentos se fecharem com mais clareza de forma que o país demonstre  que tem uma vontade real em mudar, sim, poderemos atrair o investimento de que tanto necessitamos para crescer.

Escrito para o Correio Braziliense

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