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O estridente núcleo desestabilizador do governo

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O governo de Jair Bolsonaro é uma surpresa atrás da outra. Por enquanto, as negativas superam à larga as positivas.

O laranjal do PSL e o alinhamento automático com os EUA ficam na conta das negativas. O falante e, até aqui, sensato vice-presidente Hamilton Mourão e a nova previdência (com os necessários reparos) estão no balaio das positivas.

Mas nada equivale aos rebentos numerados de papai Bolsonaro. Um é suspeito de se envolver com milicianos, o segundo briga como se fora representante de torcida organizada, o terceiro quer reencarnar Marco Aurélio Garcia às avessas (o dileto chanceler do presidente Lula).

Não apenas pelo já fez, mas pelo caráter desagregador, o trio converteu-se num estridente núcleo desestabilizador. Para um governo que tem como esbirro um partido amorfo como o PSL, a tríade carrega inequívoco potencial explosivo.

O primeiro ato do Governo Bolsonaro indica que nunca antes na história brasiliana filhos agiram com tanta desenvoltura na administração paterna. E, pela sem cerimônia do trio encrenqueiro, com o aval paterno.

Certo, havia os irmãos de Getúlio Vargas. Mas, neste caso, metade da culpa é de Seu Manuel do Nascimento e Dona Cândida Dornelles, pais de Getúlio.

 

Donatários do poder

Palpitar não é o problema. Deve ser reconfortante para um mandatário retornar ao lar à noite e poder conversar sem suspeitar do interlocutor.

Dado o tamanho de seu poderio, dificilmente alguém se aproxima do presidente sem intenções secundárias. O presidente precisa, assim, ficar o tempo todo decifrando, por detrás de lisonjas e salamaleques, o que de fato querem seus aliados e subordinados.

No remanso do lar, sentado numa bergère, cercado pelos filhos, Lula poderia se queixar sem receio de vazamento. “Não aguento mais o Zé Dirceu. Mas onde vou achar alguém que negocie com o Valdemar”.

Alguns anos antes, Fernando Henrique soltaria um bufo antes de confidenciar a um dos três herdeiros. “O que tem o Marco Maciel que me ajuda, tem o ACM que atrapalha. Sempre quer algo em troca”.

Recuando um pouco mais, encontraríamos José Sarney cofiando o bigode, enquanto alfinetava seu principal desafeto. “Rezo todo o dia pro Ulysses se tornar presidente. Aí, vou passar todos os dias do governo dele azucrinando, como ele faz comigo”.

Enfim, estes improváveis desabafos presidenciais são mostra da intimidade segura do lar. Diante dos únicos seres que não têm terceiras intenções com o presidente da República, a prosa vira um refúgio frente à dissimulação palaciana.

Por alguns instantes, aplacaria a solidão do poder. Esta angustiante sensação – a de que atrás de cada bajulador que adentra sua sala esconde-se um mercenário com quartas intenções – ficaria congelada.

Afinal, são meus filhos. Todos querem o melhor pra mim.

Na maior parte das famílias, deve ser verdade. Não parece, porém, ser o caso da de Bolsonaro.

Não que seus filhos não o queiram bem. Se, antes, sem o poder presidencial, eram unidos, imagine-se agora quando podem ser tornar donatários da 8ª economia do mundo.

 

Desenvolvimento ou razia

Maquinações intramuros são como botões de flores. Só ganham vida se desabrocharem.

Os três zuretas, porém, parecem não se incomodar com o translado de suas confidências para além da intimidade bolsonariana. Ao contrário, revelam prazer em palpitar na praça pública em que se converteu a internet.

Se fazem o que fazem é, primeiro, porque são filhos do presidente. Segundo, porque o capitão-mor permite que 01, 02 e 03 palpitem.

A tal ponto que a voz filial converte-se na voz paterna. Se o filho falou, o pai consentiu.

Se o filho ralhou, papai zangou-se. Inimigo do filho, adversário do pai.

Esses primeiros dois meses de governo são insuficientes para arriscar um palpite sobre o rumo da prosa presidencial bolsonariana. Pode ser o caminho da racionalidade econômica, ingrediente de primeira necessidade para o desenvolvimento social.

Mas pode levar à razia um País estropiado por 13 anos de governos econômica e administrativamente ineptos, coalhados de meliantes do erário. Por enquanto, o zigue-zague é a marca da nova administração – consequência da escolha de Bolsonaro, que se preparou para vencer as eleições, não para governar.

Mas, pelo menos uma regra já foi decantada da barafunda que marca este limiar de uma nova era no Brasil. Os herdeiros do presidente são indemissíveis.

Portanto, alerta aos que pretendem sobreviver na caserna palaciana: não mexam com os filhos do capitão-mor. A não ser que queiram ser dispensados da nova tropa de elite política.

 

* Itamar Garcez é jornalista

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