Quando decidiram que era tarde da noite para decidir sobre a prisão em segunda instância, os juízes da Suprema Corte abriram uma brecha para a soltura dos meliantes do erário. Se decretarem a alforria de ladrões graúdos, os onze supremos sufetas estarão sepultando a Lava-Jato.
A possibilidade da prisão em segunda instância aliada às delações premiadas provocou um torvelinho de proporções nunca antes vistas em terras brasilianas. Pela primeira vez, a elite branca e rica, e corrupta, se viu ameaçada pelo xilindró.
Patrimonialista, a elite da terra brasillis acostumou-se a depredar o patrimônio público. Não se tem notícia de que, antes da operação policial, ela tenha sido barrada em sua sanha larápia.
Com técnica investigatória, determinação legal e estratégia de mídia, um grupo de delegados, procuradores e juízes avançou sobre os que rotineiramente avançavam sobre o erário. Os meliantes do erário fizeram o que sempre fizeram. Quem fugiu do script foram os investigadores.
Ratazanas em Rondônia
Governo plantonista, o PT seguiu os passos dos partidos que mandam no Brasil há 33 anos. PMDB e PSDB, em proporções diferentes, já se refestelaram nos cofres escancarados do erário.
Chegada a hora dos endinheirados de diversos matizes padecerem os horrores dos cárceres tupiniquins, os juízes do STF sinalizaram que é chegada a hora de parar. Quem foi preso, solto será.
Quem está solto, livre ficará das “masmorras” de Cardozo. Masmorras que voltarão a ser reservadas exclusivamente à gentalha.
Caso das detentas de Rondônia. Em reportagem de 2m50s no dia 14 de março, o Jornal Nacional exibiu ratos rotundos esgueirando-se lépidos no Presídio Feminino de Porto Velho.
“O inferno do sistema carcerário brasileiro revelou mais uma situação estarrecedora”, começou William Bonner. O âncora da TV Globo poderia ter ido mais longe se quisesse editorializar a reportagem.
As 130 presas eram, na verdade, submetidas à tortura. Imagine, leitor, gordos ratos subindo sua cama durante o sono ou mordiscando sua canela.
As “masmorras” de Cardozo são assim. Nem PSDB, nem PMDB, nem PT se preocuparam com suas condições degradantes.
Ratos na Lava-Jato
Caso a Corte Suprema decida que, como dantes, chicanas jurídicas infindáveis são devidas aos condenados, o País retornará ao apartheid carcerário. A elite branca e rica, e corrupta, prosseguirá distante dos calabouços.
Afora sua condição, em si só salvo-conduto à liberdade, a elite tem recursos para contratar os melhores advogados – aqueles que têm acesso aos juízes. Permanecerá do lado de fora dos presídios.
Do lado de dentro, pobres. Em geral, negros.
Do lado de dentro, nem mesmo a percepção de justiça vai mudar. Afinal, a ralé não sabe o que é recurso, muito menos instância. E, se souber, não pode contratar sequer rábulas.
Basta ver o que disse uma anônima detenta da penitenciária de Porto Velho. “Nós sabemos que a gente tamo privado da nossa liberdade porque nós cometemo nossos erro. Então, a gente tem que pagar”, disse uma delas, resignada.
“Mas nós somos ser humano, né? Na situação que a gente tá vivendo, nenhum animal não merece”, suplicou.
Do lado de dentro, a escumalha sabe que basta um delegado ou um PM subalterno para trancafiar o indigitado. A depender do STF, os ratos que afligem as detentas de Rondônia não irão conhecer os ratos da Lava-Jato, aqueles que chafurdam do lado fora.
* Itamar Garcez é jornalista