O leilão das quatro hidrelétricas operadas pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) na semana passada colocou a bancada mineira em rota de colisão com o governo de Temer. Pouco depois de o martelo ser batido na Bolsa de Valores de São Paulo, manifestações de protesto surgiram no Congresso.
No Senado, em função do novo afastamento de Aécio Neves (PSDB-MG) do mandato, não houve reações dos outros dois senadores mineiros, ambos ligados ao tucano. Mas, na Câmara, vários deputados da bancada de 53 representantes se revezaram na tribuna para criticar a postura do governo, que não aceitou uma solução negociada com a estatal mineira.
A manifestação mais contundente foi a de um aliado governista. Mesmo sendo do partido de Temer, o PMDB, o coordenador da bancada de Minas Gerais e vice-presidente da Câmara, Fabio Ramalho, conclamou os conterrâneos a votar contra o governo.
No dia seguinte à venda das hidrelétricas, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), presidida pelo deputado mineiro Rodrigo Pacheco (PMDB), aprovou um projeto de decreto legislativo que visa invalidar a operação. O projeto susta as portarias que autorizaram o leilão.
Contudo, como a matéria necessita ser confirmada pelo plenário da Câmara e passar pelo Senado, dificilmente terá condições de surtir efeito. Além disso, caso venha a ser aprovada, deve passar por uma judicialização pelo fato de o leilão já ter sido consumado.
Ainda que a empreitada não prospere, uma rusga com a bancada de Minas Gerais não é algo recomendável para o governo, especialmente no cenário conturbado em que vive hoje. O estado não possui nenhum representante no Ministério de Temer e a desavença não é algo recente.
A ausência de apoio dos aliados mineiros deve ser decisiva em algumas votações, como em matérias constitucionais e leis complementares que exigem um elevado número de votos.
Esse quadro de beligerância ainda pode ser agravado com outra privatização. Os mineiros desejam que Furnas Centrais Elétricas, subsidiária do grupo Eletrobras, fique de fora da venda do sistema.
A empresa atua em Minas Gerais e é controlada pela bancada do estado, que indicou o nome de Ricardo Medeiros para a presidência da companhia.
A escolha de Rodrigo Pacheco pelo também mineiro Bonifácio de Andrada (PSDB) para relatar a segunda denúncia contra Temer e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco deve forçar uma compensação a Minas Gerais.
Apesar de Andrada ter votado a favor de Temer na primeira denúncia e seja alinhado ao governo, o oferecimento de um parecer pelo arquivamento da acusação deve ser negociado e Furnas deve fazer parte das conversas.