Para saber mais sobre a crise política, leia:
FOGUEIRA POLÍTICA EM BRASÍLIA – Murillo de Aragão
RECALL À BRASILEIRA – Marcos Queiroz
NÃO HÁ FAVORITOS PARA 2018 – Carlos Bellini
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Futebol é uma caixinha de surpresas dizem os comentaristas esportivos. O que pouca gente imagina é que o nobre esporte bretão tenha se transformado em origem de pesados problemas políticos. Os estádios que receberam jogos da Copa do Mundo de 2014 foram escrupulosamente investigados e marcados por sucessivos atos de corrupção. Todas as obras foram vítimas de superfaturamento, cujo excesso foi transferido para os chefes políticos locais. A Copa do Mundo de 2014 foi, de fato, uma festa. No futebol, na ótica dos brasileiros, um desastre.
Mas há um entorno do futebol que não é percebido por olhos menos atentos. São os direitos de transmissão por televisão, rádio, internet e outras mídias. Anúncios nos estádios, venda de ingressos e anunciantes de grande porte, que investem milhões de dólares e também levam convidados especiais para assistir os jogos. Esse segundo capítulo tem sua história específica. No primeiro, da construção dos estádios, políticos e empreiteiras ganharam muito dinheiro. No segundo, figuram direção da CBF, operadores, empresas de rádio e televisão e especialistas na área, que também ganharam muito dinheiro. Nada disso veio ao conhecimento público.
A pena da galinha
Acontece que a justiça norte-americana detectou irregularidades na movimentação de dinheiro dentro dos Estados Unidos. Essa investigação conduziu José Maria Marin à prisão na Suíça e depois em Nova Iorque, onde ele ainda está. Meses atrás, de novo, a justiça norte americana detectou e indiciou Marco Polo del Nero, atual presidente da CBF, e Ricardo Teixeira, ex-presidente da entidade. Del Nero não sai do país porque corre o risco de ser preso. Teixeira deixou Miami e voltou para o Rio pela mesma razão.
Na medida em que Ricardo Teixeira foi indiciado pela justiça norte-americana, o processo passou a investigar as atividades supostamente delituosas do ex-dirigente dentro do Brasil. No dizer do falecido Teori Zavascki, alguém puxou uma pena e veio uma galinha inteira. Personagens que estavam ocultos e protegidos em território nacional, empresas inclusive, ficaram a descoberto. Pior: foram levados a se confrontar com os inquisidores do Ministério Público. Os procuradores estão agindo, nos últimos dias, como um partido político. De repente, eles perceberam que podem modificar o entendimento de prática de caixa dois, desde que haja prova de que o beneficiário não obteve vantagens pessoais. Ou seja, o dinheiro não contabilizado tenha sido utilizado para financiar, de fato, a eleição.
A jogada definitiva
É uma boa ideia. Livra entre cinquenta e sessenta parlamentares de prisão. E também, gera a expectativa positiva no Congresso de votos a favor da denúncia do Procurador Geral da República contra o presidente Michel Temer. O Ministério Público está apontando para a mesa de negociação. Age com objetivo definido: derrubar o presidente da República. Na súbita aparição de tubarões de grande porte naqueles negócios em torno da Copa das Confederações, da Copa do Mundo, das Olimpíadas, das negociações de tempo de TV e da venda de jogadores – o lamaçal que é o futebol brasileiro (e não apenas o brasileiro) – uma boa e influente moeda de troca é unir forças na tentativa de derrubar o presidente da República.
Basta olhar em volta para perceber que muita gente graúda mudou de posição nos últimos trinta dias. E sem qualquer explicação. Um dia figurava num lado e no dia seguinte estava no outro. O processo de sucessão do PGR, Rodrigo Janot está se esgotando. Ainda neste mês será realizada a votação para a escolha da lista tríplice de nomes escolhidos por seus colegas para comandar o Ministério Público. O presidente da República não é obrigado a escolher o primeiro da lista, o mais votado. Mas sua opção deve permanecer dentro da opção tríplice. Havendo a decisão, o nome vai para a Comissão do Senado para ser sabatinado. Depois o escolhido será submetido ao plenário. Em setembro ocorrerá a sucessão.
Há, portanto, muita pressa para limpar a mesa e solucionar os problemas. O maior deles é, sem dúvida, a permanência de Michel Temer na presidência da República. É jogada definitiva. Nessa altura da controvérsia, depois de montanhas de delações, descobertas fabulosas de desvios multimilionários, exata percepção da realidade brasileira, o juridiquês apenas encobre o jogo político. Um presidente atingido várias vezes resiste em deixar a cadeira presidencial. Nenhum nome até agora apareceu em condições de assumir o país e pacificá-lo em 16 meses. É o tiroteio final.