Em janeiro, a República Dominicana recebeu a V Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), oportunidade em que ficou muita clara a divisão política e ideológica que põe em xeque a integração regional.
Tenho insistido em que os países latino-americanos e caribenhos enaltecem sobremaneira os processos integracionistas sem, contudo, ocuparem-se da necessária unidade, elemento fundamental para cimentar qualquer projeto.
Daí que essas cúpulas produzem poucos resultados objetivos. Cada presidência pro tempore busca o seu protagonismo, deixar a sua marca, mesmo que isso signifique estancar diálogos já iniciados. Ao acompanhar os bastidores do evento, pude perceber o quanto são grandes as distâncias entre sul-americanos e centro-americanos, e entre eles e o Caribe.
Há imperfeições, desconfianças, rivalidades e tensões que nem mesmo o distanciamento norte-americano é capaz de forçar a resolução dos problemas em benefício do relacionamento comum. A América Latina e o Caribe perdem para si mesmos, e esta ausência de unidade afasta o investidor ou acirra ainda mais os ânimos, ampliando o vácuo existente.
Se a China, por exemplo, decidir investir pesado em determinados países, isso irá criar tensões com outros. E a China tem razões para não investir em todos. Pelo menos 12 desses países preferem manter relações com Taiwan. Uma relação toda ela baseada em recursos econômicos e só. O mesmo pode ocorrer com a União Europeia que pretende herdar qualquer espólio norte-americano que vier da indiferença com que Donald Trump deve tratar a região e a presença dos Estados Unidos nela.
Além disso, os europeus monitoram a situação da Odebrecht que já reinou absoluta na América Latina. A desmontagem dessa engrenagem lapidada com dinheiro sujo da corrupção, poderá representar uma nova chance para as empresas da Europa. O Velho Continente também avalia que as relações com os Estados Unidos serão no mínimo, difíceis.
Por outro lado, a região ganharia substancialmente se fosse capaz de superar seus próprios demônios. Ao atuar de forma conjunta, ganha robustez e força, inclusive nas negociações com os gigantes. No entanto, a tendência é de divisão, de racha.
Neste caso, Argentina, Brasil e México, deveriam chamar para si a responsabilidade e liderar a região. São países com força política e econômica capaz de ditar o ritmo da política exterior regional e os seus rumos. Resta saber se pelo menos esses três conseguem unir-se em torno de um projeto dessa magnitude.