O impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff impôs para o PT uma série de incógnitas em relação ao seu futuro político: 1) Lula sobreviverá até 2018?; 2) a eventual ausência do ex-presidente na próxima eleição pode acentuar as divisões internas no partido?; 3) o que fazer diante da ausência de nomes alternativos?; 4) Como o PT lidará com seu legado e que agenda de futuro apresentará?
Lula sobreviverá?
Embora o ex-presidente Lula seja a única opção de poder do PT para 2018, seu futuro político é incerto. Investigado na Operação Lava-Jato, Lula pode ter sua nova candidatura ao Palácio do Planalto implodida caso, por exemplo, tenha sua prisão preventiva decretada no escândalo do petrolão.
Mesmo que o ex-presidente sobreviva a Lava-Jato, seu potencial eleitoral é bem inferior ao que já foi num passado não muito distante. Embora possa fazer os 30% dos votos que historicamente a esquerda possui, sua elevada rejeição (mais de 50%, segundo o último Datafolha) é um obstáculo.
Se a conjuntura política é negativa para o PT com Lula, pior ainda será sem a presença do ex-presidente na disputa.
Caso Lula esteja ausente, as divisões internas na legenda podem se acentuar, pois não há nenhum nome alternativo com o mesmo capital político. Mais do que isso, sem Lula, o partido ficará sem ninguém para liderá-lo.
Hoje, três nomes aparecem com potencial de futuro no PT: o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o ex-ministro e ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, e o também ex-ministro José Eduardo Cardozo. Porém, nenhum desses nomes tem a expressão nacional de Lula.
Haddad é visto ainda como uma liderança sem muita identificação com a máquina partidária petista (foi candidato a prefeito vitorioso em 2012 muito mais por uma escolha do ex-presidente do que por uma opção do PT). Wagner é uma liderança com peso político ainda muito restrito à Bahia. E Cardozo, por conta da defesa que fez do governo Dilma Rousseff durante o processo de impeachment, é um político com potencial, mas carrega o desgaste do afastamento da presidente.
Dos nomes petistas para o futuro, dois deles (Haddad e Cardozo) pertencem à corrente Mensagem ao Partido, liderada pelo ex-ministro e ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Já Wagner, integra a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), antigo Campo Majoritário, que controla nacionalmente o PT desde 1995.
Sem Lula, esses dois grupos podem travar um acirrado debate interno a respeito do futuro do PT. Por exemplo, a MP defende a formação de uma frente de esquerda. Mesmo com Lula sendo o candidato, a Mensagem acredita que a candidatura do ex-presidente não deve ser automática.
Em entrevista concedida ao jornal “Valor Econômico” na sexta-feira passada (27), Tarso Genro declarou: “Penso que Lula deve estar no centro de uma nova frente política, mas se articulando de forma horizontal, num mesmo plano, com um conjunto de dirigentes de outras forças. E se for candidato, que não o seja por mera ‘indicação’ do PT, mas, sim, fruto de um novo consenso”.
Já a CNB, continua apostando todas suas fichas em Lula e se opõe à tese da formação de uma frente de esquerda.
Caso Lula sobreviva politicamente à Lava-Jato, a tese da CNB é mais viável internamente no PT. Mesmo desgastado, o ex-presidente controla o partido, e a Mensagem não iria propor algo diferente da candidatura Lula em 2018.
Porém, sem Lula no páreo, o PT viverá um impasse. A CNB, por exemplo, pode defender o nome de Jaques Wagner como forma de continuar controlando o PT nacionalmente ou até mesmo defender o apoio ao ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes (PDT) como “Plano B”.
A exemplo de outros partidos de esquerda há uma ausência de nomes que não sejam petistas, a Mensagem poderá colocar Haddad ou Cardozo no jogo. Ao menos hoje, a tese de frente de esquerda é difícil de prosperar, pois o PSB descolou-se do PT, e partidos como PSOL, PSTU etc, defendem uma ação política mais radicalizada que a pregada pelo PT. Assim, a frente defendida por Tarso teria dificuldades de coesão interna.
Outro problema a ser enfrentado pelo PT é em relação a agenda. Dilma Rousseff saiu da presidência via impeachment, o que representa uma importante carga negativa sobre a imagem do partido, e com o país mergulhado numa grave crise econômica. Essa combinação (impeachment mais crise econômica) anula as conquistas sociais do chamado lulismo? Como o PT lidará com seu legado? São incógnitas com as quais os petistas terão que lidar.
O fato é que o PT viverá muitos dilemas nos próximos anos. Mesmo que preserve uma base social importante, ancorada em movimentos sociais, além da simpatia no meio acadêmico e intelectual, é inevitável que o partido sofra uma grande derrota eleitoral já nas eleições municipais de 2016.
Após isso, os debates internos devem se acentuar. Lula continua sendo o “Plano A” para 2018, pois o PT depende dele para não passar por muitas dificuldades internas. Porém, com ou sem o ex-presidente, o partido corre o risco de deixar de ser protagonista na próxima sucessão presidencial, o que forçará o PT a se reinventar.