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Caos profundo

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O festival de delações que assola o país está alcançando seu clímax. Todos se acusam reciprocamente e lentamente a verdade emerge em meio ao falatório. Em primeiro lugar, está claro que a Petrobras – não apenas ela – foi utilizada fartamente para financiar campanhas e o enriquecimento pessoal de alguns destacados políticos brasileiros. A operação lava-jato conseguiu colocar contra a parede boa parte dos protagonistas. Estão assustados. A maior parte dos políticos, é evidente, pretende alcançar o sonhado acordo que faça com que as investigações parem aonde chegaram.

Ou seja, a tentativa, que não foi bem sucedida, era adotar a regra básica da gafieira. Quem está fora não entra e quem está dentro não sai. Mas as tentativas estão sendo descontruídas pela realidade. O ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que foi senador do PSDB, não hesitou em sacrificar amigos de toda a vida na tentativa de reduzir as penas que possivelmente serão aplicadas a ele. Ele cometeu uma deleção antecipada, pública, e jogou os antigos companheiros na fogueira da opinião pública. Queimou suas caravelas. Não voltará à política, nem pelos políticos será amparado.

A operação lava jato já alcançou boa parte de seus objetivos. Os procuradores poderão, a partir de agora, realizar investigações seletivas para clarificar alguns poucos aspectos ainda obscuros da gigantesca manobra de corrupção realizada por empresários, políticos e diretores da Petrobras e outras empresas estatais. O problema não é policial. É político. Boa parte dos parlamentares está envolvida nas tenebrosas transações, assim como esteve o comando do Partido dos Trabalhadores. Não há muito mais o que dizer sobre o assunto. Já há gente cumprindo sentença condenatória. As consequências, contudo, podem abalar seriamente os frágeis fundamentos do governo Temer. É aí que mora o perigo.

O senador Cristovam Buarque ameaça rever seu voto a favor do impeachment. Ele gosta de brincar com suspense. É sua maneira de garantir espaço nos jornais. Se ele, e seu colega de bancada, Reguffe, senador do Distrito Federal, parente, aliás, de Sérgio Machado, mudarem os votos, ficará difícil para o governo obter os 54 necessários para completar o processo de transição. É uma pressão permanente contra o novo comando do Palácio do Planalto. Serão negociações que vão atravessar madrugadas, como tem ocorrido nos últimos meses. É difícil antever o retorno de Dilma. Se ocorrer será uma reversão absurda e imprevisível na política nacional.

A ex-presidente não é bem recepcionada nem pelos seus antigos correligionários. Os petistas, que nunca engoliram a ex-militante do PDT, agora querem distância dela por causa das eleições de outubro deste ano. Quem aparecer abraçado a Dilma em alguma peça publicitária certamente vai perder votos. Até os governadores nos estados governados pelo PT diplomaticamente recusam a duvidosa honraria de recebê-la em seus domínios. Sua presença não ajuda a ninguém. Mas se o governo Temer cair, o Brasil deverá entrar numa situação dificílima. A solução será convocar eleições gerais. A população está saturada dos políticos tradicionais. Será relativamente fácil para algum candidato esperto realizar pesquisa de opinião, saber o que o povo quer ouvir e fazer a campanha no estilo caça aos marajás. Foi assim que Fernando Collor se elegeu presidente da República, por um partido pequeno, sem equipe, nem militância. Só com discurso.

Este é o pior cenário possível. O governo Temer tem as suas dificuldades. Alguns integrantes da cúpula do PMDB estão envolvidos em malfeitos aqui e ali. Dessa constatação deriva a necessidade de acordo para que a operação lava jato pare de produzir vítimas dentro do território da administração federal. Mas a questão política não sensibiliza policiais, procuradores, juízes ou ministros do Supremo Tribunal Federal. Então é razoável supor que a atual administração vá ser alvejada por alguns disparos abaixo da linha d´água. Vai ter que sobreviver ao bombardeio. A alternativa é muito pior. O horizonte da atual administração é arrumar as contas públicas e fazer com que o país consiga chegar a 2018.

Se alcançar estes objetivos, dentro de uma atmosfera democrática, terá conseguido realizar uma proeza invejável. Além de todos os obstáculos, ainda há pelo caminho a eleição municipal deste ano. Eleição é sempre momento de tensão. A temperatura se eleva. Mas se dezembro chegar e o governo Temer estiver no Planalto será sinal de que o pior terá ficado para trás. O objetivo é avançar dia a dia. Realizar eleições para presidente da República agora seria mergulhar o país no caos profundo.

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