Funciona em Berlim um museu interessante. Reproduz, em detalhes, a vida na extinta Deutsche Demokratische Republik (DDR), ou Alemanha Comunista, que existiu entre 1949 e 1990. O muro, que dividia os dois países, com mais de 150 quilômetros de extensão, foi derrubado em 1989. Poucos meses depois, a maioria da população do lado oeste decidiu pela reunificação do país. Uma existência efêmera, pontuada por problemas de todos os tipos.
O principal era a decisão da maioria de viver no lado capitalista. Depois das violentas repressões realizadas pelo Exército Vermelho, os dirigentes construíram o muro para evitar deserções. Tudo isso está no museu. Inclusive apartamentos padronizados dentro do esforço governamental de prover moradias para todos. Neles há de tudo, armário, roupas, comidinhas, rádio e televisão. Quem ligar a TV vai assistir a um dos discursos patrióticos dos líderes do país que deixou de existir.
O discurso da presidente Dilma Rousseff no plenário da Câmara os Deputados foi insípido, recheado por números, estatísticas e promessas. Nenhuma emoção. Ela se limitou a ler as frases sem fazer as inflexões naturais e necessárias de um bom político, que chama o aplauso e provoca emoção na plateia. Aceitou aparte de uma deputada e saiu do roteiro para, de improviso, se arriscar numa resposta oblíqua e nada esclarecedora.
Na antiga DDR era assim. Os políticos falavam de maravilhas do regime comunista e o país se endividava cada vez mais. Devia mundos e fundos aos bancos da irmã Ocidental. Havia uma contabilidade paralela. Uma era a oficial, a outra, secreta, era verdadeira. Só nos últimos dias os alemães orientais descobriram que o país estava quebrado e as finanças nacionais haviam se reduzido a nada. Nos estertores da existência, os dirigentes foram a Gorbachev pedir verbas. Ele negou e proibiu o Exército Vermelho de se envolver em assuntos internos daquele país. O muro caiu.
A presidente Dilma disse que neste ano deverá realizar concessões no setor ferroviário. Ele tenta fazer isso nos últimos cinco anos e até hoje a Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT – não conseguiu definir o modelo de negócio dos trens no Brasil. O trecho entre Palmas e Anápolis está com os trilhos colocados. Mas por ali não transita nenhuma composição. Ninguém sabe como cobrar, o que cobrar e a quem cobrar. As concessões de rodovias também estão paralisadas. E as de aeroportos carecem de interessados. As empreiteiras empresas, envolvidas na lava-jato, perderam as condições de disputar grandes obras.
A presidente falou do programa de proteção do emprego que preservou o trabalho de 47 mil trabalhadores. Nas contas oficiais o desemprego chegou para mais de um milhão de pessoas. A indústria brasileira recuou a níveis absurdos. Deixou de ser competitiva. Nem a siderurgia foi poupada. Os países organizados defendem sua produção de aço. No Brasil, as siderúrgicas estão sendo desmontadas em nome da importação do produto da China. Impostos são elevados dia após dia. Mas a fala presidencial pretende que a voracidade fiscal está menor que em tempos recentes. Matemática estranha. Tudo para defender a recriação da CPMF, cujo objetivo é apenas cobrir o rombo produzido pelo próprio governo em suas contas.
Há enorme distância entre a fala presidencial e a realidade cotidiana. O vexame internacional a que os brasileiros estão submetidos tem nome. É o mosquito aedes egipti. Mosquito é sinônimo de sujeira. Faltou dinheiro para contratar equipes de saneamento no momento certo. Primeiro os casos de dengue explodiram, depois a febre de nome esquisito e por último a desgraça da microcefalia, transmitida pelo zica virus. A Organização Mundial da Saúde declarou emergência para deter a doença. Empresas aéreas estão devolvendo o dinheiro de passagens compradas para o Brasil. Ninguém quer se expor. O país atingiu níveis alarmantes de insalubridade.
A burocracia brasileira comanda o país. Receita Federal decide espionar o cidadão. E o faz por decisão autoritária, sem consultar, ninguém, muito menos o contribuinte. Os números da economia pioram. A confiança desaparece e não surgiram até o momento os caminhos para driblar a crise. Dizem os especialistas que só a partir de 2019, com o novo governo, o Brasil poderá voltar a cogitar de crescimento. Na Alemanha Oriental o discurso vazio dos burocratas contribuiu decisivamente para acabar com o país. No Brasil, os burocratas não hesitam em chegar a seu objetivo: alcançar o subdesenvolvimento pleno, com níveis africanos. Ou seja, retroceder na história.