A semana passada foi uma das mais traumáticas, desde o início da crise que mistura déficit fiscal, desgaste econômico e investigações do escândalo da Petrobras. 116 pessoas já foram presas. Desta vez, fato inédito, o Supremo Tribunal Federal determinou a prisão de um senador no exercício do mandato, Delcídio do Amaral, acusado de obstruir o trabalho do Ministério Público e da Polícia Federal. O fato abalou o governo e poderá atrapalhar a tramitação das medidas do ajuste fiscal no Congresso.
Delcídio do Amaral
Gravação explosiva leva líder do governo à prisão, aumenta a temperatura política e dificulta ajuste fiscal
O líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral, foi o primeiro senador a ser preso no país no exercício do mandato. A determinação partiu do Supremo Tribunal Federal (STF) sob a acusação de obstrução das investigações da Lava-Jato. O plenário do Senado manteve a prisão do senador por 59 votos a favor e 13 contra. O placar não revela o constrangimento do plenário – Delcídio é um dos políticos mais estimados do Congresso. As prisões dele e do empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, reverteram a expectativa do governo para o final do ano. O escândalo leva de volta a crise para Planalto e afeta a aprovação de matérias do ajuste fiscal no Congresso. As gravações mostram que a delação de Nestor Cerveró citou o envolvimento da presidente Dilma Rousseff no Caso Pasadena.
André Esteves
Supremo manda prender banqueiro por suposta ligação com movimentos de senador
O banqueiro André Esteves, do banco BTG Pactual, também foi preso pela Polícia Federal no mesmo dia do senador Delcídio do Amaral. Por conta de di- álogos entre terceiros e a presunção de que seja culpado, foi apontado como um dos potenciais implicados nas irregularidades que levaram à prisão do líder do governo no Senado. Esteves é considerado uma das personalidades mais influentes do mercado financeiro e um dos mais talentosos financistas da atualidade. Graduado em Ciências da Computação pela UFRJ, Esteves começou a carreira no Banco Pactual ainda muito jovem. Tornou-se sócio minoritário e participou do movimento de saída do então controlador. Mais tarde, vendeu a instituição para o suíço UBS e três anos mais tarde, recomprou o banco. Sua prisão causou imensa repercussão no mercado financeiro.
Teori Zavascki
O ministro do Supremo declarou-se impedido de julgar ação do PSDB que pedia voto aberto no Senado
Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo, decretou de forma monocrática a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-SP) e do banqueiro André Esteves. Sua decisão foi referendada, de forma unânime, pela 2ª Turma do STF. Também chegou ao ministro mandado de segurança da oposição pedindo que a votação do Senado que decidiria sobre a manutenção da prisão do senador fosse aberta. Zavascki declarou-se impedido e a decisão coube ao ministro Edson Fachin. Nas gravações feitas pelo filho de Nestor Cerveró, Delcídio diz que já havia conversado com os ministros Dias Toffoli e Teori para proteger o ex-diretor da Petrobras. Ele promete que ainda falaria com Gilmar Mendes. Os ministros negaram conversas com o senador a respeito do assunto.
Bernardo Cerveró
Ator profissional, filho de Cerveró teve papel importante na operação que resultou na prisão do senador
Filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, levou à prisão o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), e André Esteves, controlador do Banco BTG Pactual. Ator e produtor artístico, ele fez uma encenação perfeita para revelar as movimentações tramadas pelo senador. Além do talento natural, Bernardo também foi treinado para fazer a gravação que sacudiu a República. Antes mesmo do acordo de dela- ção premiada do pai, Bernardo fechou um acordo para colaborar com as autoridades. Nos bastidores, comenta-se que há mais conteúdo além do que foi divulgado e deverá embasar novos mandados de prisão. Por isso, instalou-se um grande suspense no meio político. Parlamentares estão apreensivos com os possíveis desdobramentos do “teatro de Bernardo”.
José Carlos Bumlai
Prisão de amigo do ex-presidente pela Operação Lava-Jato põe em risco movimentação política de Lula
A prisão do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, ocorrida nesta semana, traz novamente a Operação Lava Jato para o centro do poder. Ao ameaçar Lula, causa constrangimentos à presidente Dilma Rousseff e ao PT. Considerado a única peça no tabuleiro com capacidade para amenizar os danos que a crise causou ao partido e tentar liderar uma recuperação da legenda, a queda de pessoas próxima a Lula no âmbito da Lava-Jato mantém o ex-presidente na “linha de tiro” e complica suas ambições. Visto no PT como o candidato natural para 2018, Lula perde força a cada dia. Mesmo junto ao eleitorado mais pobre, que é cada vez mais atingido pelo aumento da inflação e a ameaça de desemprego, o prestígio do ex-presidente, embora permaneça elevado, não possui a extraordinária força que tinha no passado.