Em política, nenhum movimento é em vão. Muitos atos são planejados e seus efeitos devidamente calculados. Outros, mesmo voltados para um determinado objetivo, acabam por se conectar com empreitadas de finalidade diversa. E os fatos dos últimos dias convergem para a sucessão nas presidências das Casas do Congresso Nacional em 2025, em especial, na Câmara dos Deputados.
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Na semana que passou, noticiou-se a possibilidade de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, deixar o Republicanos e ingressar no PL do ex-presidente Jair Bolsonaro. O fato de o Republicanos integrar o governo Lula vem pressionando Tarcísio a deixar a legenda e se filiar a uma sigla de oposição, totalmente vinculada ao bolsonarismo. Essa possível mudança vem sendo assimilada como um componente a influenciar a eleição à presidência da Câmara, com reflexos sobre uma futura candidatura do vice-presidente da Casa e presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira (SP). Para uma ala do partido, a eventual saída do governador é vista como um desenlace do partido com o bolsonarismo, o que pode trazer o apoio velado do governo Lula à candidatura de Pereira. Por outro lado, esse afastamento também tende a afugentar potenciais votos da oposição.
Marcos Pereira é tido como uma forte opção de contraponto à continuidade do poder de Arthur Lira (PP-AL), atual presidente da Câmara. Nesse cenário, seu opositor seria Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil e nome ungido por Lira. Tal candidatura já vem sendo construída com contornos institucionais. Na distribuição das presidências das comissões permanentes da Casa, o União Brasil abriu mão do comando de colegiados de grande prestígio em favor de outros partidos de olho na campanha sucessória. A intenção é receber a retribuição em forma de apoio na disputa do próximo ano.
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Da mesma forma, Arthur Lira trabalhou para angariar apoios para seu pretenso sucessor. Alguns “favores” prestados serão cobrados mais adiante. Além disso, a Comissão Mista de Orçamento (CMO) ficará sob o controle do PP, partido de Lira. Dada a importância adquirida pelo colegiado em função do progressivo controle sobre verbas públicas de interesse de parlamentares, a CMO é atualmente uma peça importante no tabuleiro da sucessão.