Considerada improvável até a semana passada, a aliança unindo o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador de São Paulo (SP) Geraldo Alckmin, que decidirá seu futuro político após as prévias tucanas, entrou no radar do mundo político.
Na sexta-feira passada (12), ao realizar da gravação de um reality show sobre política promovido pelo ex-governador Márcio França (PSB), Alckmin declarou ter ficado “honrado” com a lembrança para ser candidato a vice-presidente na chapa de Lula. No entanto, afirmou que a decisão sobre sua candidatura não é para agora.
Alckmin também negou que tenha diferenças intransponíveis com Lula e disse que política precisa ser feita com civilidade e com quem tem apreço pela democracia.
Apesar do desejo de Lula em ter Geraldo Alckmin como vice — recentemente, o ex-presidente se referiu ao ex-governador como “o único tucano que gosta de povo” — essa composição não é o cenário mais provável, pois encontra resistências tanto em aliados de Lula quanto de Alckmin.
No entanto, ao deixar aberta a possibilidade de ser o vice de Lula, Alckmin alimentará especulações. Embora essa decisão não ocorra agora, o ex-governador dará sinais de qual será seu futuro político a partir da escolha do partido que irá se filiar.
Se Alckmin se filiar ao PSD, que tem o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como pré-candidato ao Palácio do Planalto, ou a União Brasil, legenda que nascerá da fusão entre DEM e PSL, a aliança com Lula será improvável. Porém, se Alckmin optar por se filiar ao PSB, que é o partido de Márcio França, crescerá a possibilidade de uma aliança com Lula.
Ingressando no PSB, Geraldo Alckmin poderia ser o vice de Lula, abrindo espaço também para uma aliança unindo PT e PSB em SP. Como contrapartida, Alckmin e o PT poderiam apoiar a candidatura do ex-governador Márcio França (PSB) ao Palácio dos Bandeirantes.
Mesmo que Alckmin tenha uma estreita relação com a França, a desistência de Alckmin em ser novamente candidato a governador encontra resistência. Sem Alckmin no jogo, o principal beneficiado seria o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), que é o candidato do governador João Doria (PSDB).
Mesmo que Doria esteja desgastado, a expectativa é que a partir do momento que Garcia se tornar mais conhecido, ele cresça, afinal de contas será candidato com a máquina administrativa sob seu controle.
Diante do risco de perder ainda mais influência em SP, Geraldo Alckmin poderá resistir em não concorrer a governador. Outro obstáculo é o próprio PT. Mesmo que o projeto Lula seja prioridade, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) está em pré-campanha. Como Alckmin é um adversário histórico do PT, resistências também estão presentes junto aos petistas.
Em pese que todos esses obstáculos, a manifestação de Alckmin na sexta-feira passada deixou aberta a possibilidade de uma aliança com Lula, que se ocorrer provocará uma significativa mudança tanto no plano nacional quanto estadual.
Guardadas as devidas proporções, a eventual chapa Lula e Alckmin poderá ter o efeito da aliança Lula e José Alencar em 2002 por conta do aceno que o ex-presidente faria ao centro político a partir de uma composição com o ex-governador. Em SP, a aliança ajudaria Lula a quebrar resistências num estado que é o epicentro do antipetismo.
Outra consequência é que a união entre PT e PSB tendo Alckmin trabalhando em favor de Márcio França o colocaria como o principal adversário de Rodrigo Garcia na disputa pelo governo de SP. Porém, ao apostar no voo nacional, Alckmin corre o risco de perder influência em SP, principalmente se a eventual chapa fosse derrotada.