O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), provável candidato à reeleição nas eleições municipais de 2020, tenta encontrar um espaço no tabuleiro da disputa na capital paulista.
Covas terá uma eleição difícil pela frente. Além do desgaste que carrega por estar completando o mandato do hoje governador João Doria (PSDB), que renunciou ao cargo para disputar o Palácio dos Bandeirantes mesmo tendo prometido cumprir os quatro anos como prefeito, pesa contra Covas sua baixa popularidade. Segundo pesquisa do instituto Paraná realizada em abril, a avaliação ótima/bom de Covas é de apenas 20%. O percentual ruim/péssimo contabiliza 42%.
Não bastassem esses problemas, pesquisas qualitativas realizadas pelo PSDB paulista mostram que a associação com o deputado federal Aécio Neves (PSDB-SP) tem prejudicado bastante a imagem do partido na capital. É por isso que o PSDB paulista pressiona pelo afastamento de Aécio de legenda.
Outro obstáculo para Bruno Covas será a composição do tabuleiro eleitoral. Como o PSL terá uma candidatura alinhada ao bolsonarismo, o campo da direita parece fechado para o PSDB, principalmente depois que o governador João Doria (PSDB) criticou as polêmicas afirmações do presidente Jair Bolsonaro sobre o desaparecimento e a morte de Fernando Santa Cruz, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, durante a ditadura militar. Além da crítica ao posicionamento de Bolsonaro, Doria afirmou que “nunca foi aliado do presidente”, embora tenha pregado o voto “Bolsodoria” na eleição de 2018.
Como a eleição presidencial de 2022 tende a colocar Doria e Bolsonaro em campos opostos, e a disputa de 2020 na capital paulista será o primeiro campo da batalha do embate entre Doria e o bolsonarismo, a trânsito de Covas junto ao eleitorado conservador está cada vez mais restrito.
Não bastasse isso, vale recordar que as últimas manifestações realizadas de apoio ao presidente Jair Bolsonaro na cidade mostram muitos grupos conservadores atuantes alinhados ao bolsonarismo como, por exemplo, o Direita SP, que tende a estar ao lado da candidatura do PSL.
Assim, resta a Covas se posicionar ao centro. O problema é que a manutenção do cenário de polarização entre o bolsonarismo x PT pode inviabilizar a construção de uma opção ao centro.
Para piorar o quadro. Além de uma candidatura do PT, o ex-governador Márcio França (PSB) deverá ser candidato, o que representa uma ameaça não apenas para os petistas, mas também para os tucanos.
Pesa também contra Bruno Covas as históricas dificuldades do PSDB na capital paulista. Vale recordar que de 1992 a 2016, os tucanos disputaram sete eleições em São Paulo e venceram apenas duas (2004 e 2016). Dessas sete disputas, em quatro oportunidades (1992, 1996, 2000 e 2008) sequer chegou ao segundo turno.
Outro ponto importante é que, sempre que o PSDB chegou ao segundo turno ou venceu a eleição, ocupou um espaço vago no campo da centro-direita, algo que dificilmente estará disponível em 2020 devido a força do bolsonarismo na capital.
Nesse complexo cenário, Bruno Covas precisará encontrar uma narrativa forte. Em recente entrevista concedida ao Estadão, o prefeito emitiu alguns sinais de como tentará isso.
Covas tem procurado se apresentar como moderado e conciliador. Na entrevista declarou que “diverge de atitudes que o PT teve, mas isso não significa que eu vá fazer um discurso de ódio”, disse ele ao Estado. Não faço uma carreira em cima do antipetismo”.
Numa tentativa de flertar com o eleitorado que rejeita o PT lembrou que “votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff”. Declarou que é anti-petista, mas “isso não é um atributo positivo. É uma situação”.
Ao mesmo tempo, também se afasta do presidente Jair Bolsonaro. Ao ser questionado sobre sua avaliação do governo Bolsonaro, Covas afirmou que “as declaraçõesnão são diferentes do que ele falava na campanha. Foi por isso que no segundo turno em 2018 eu anulei meu voto para presidente. Ele foca no grupo político que representa, com discurso de ódio, segregação”.
Conforme podemos observar, a estratégia de Bruno Covas, ao que parece, é buscar votos no eleitorado anti-petista e anti-bolsonarista. O problema é que num cenário polarizado esse espaço ao centro pode ficar bastante limitado. Considerando a polarização existente tanto na política mundial quanto nacional, apostar nessa estratégia pode fracassar.
Ainda é precoce saber se tal posicionado de Bruno Covas dará certo. Porém, os obstáculos para a viabilização de tal estratégia são consideráveis.