Agosto é um mês marcado por acontecimentos políticos importantes e dramáticos no Brasil. Figuras exponenciais morreram no mês, caso de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Eduardo Campos. Dilma Rousseff foi definitivamente afastada do Palácio do Planalto em agosto, mês em que Jânio Quadros renunciou à Presidência e o presidente Costa e Silva sofreu um AVC. É lugar-comum dizer que agosto é o mês do cachorro louco, bem como alertar para a possibilidade de ocorrência, nessa época, de fatos impactantes na política. Sem pensar em coincidências e sem olhar muito para episódios do passado, pode-se dizer que este agosto também promete ventanias fortes.
O que devemos observar? Os focos de atenção são os desdobramentos das campanhas eleitorais do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Lula (PT). Bolsonaro mantém uma distância para Lula entre 6 e 10 pontos, de acordo com as pesquisas de intenções de voto. Lula oscila entre apresentar um discurso centrista e manter o tom esquerdista, o que tem prevalecido. Ao manter certo radicalismo, abre espaço para especulações de como seria um eventual governo. Bolsonaro ainda não abre mão do discurso agressivo contra a Justiça Eleitoral. E continua sem faturar com os sinais positivos da economia, que apontam para deflação, queda do desemprego e distribuição de recursos do FGTS e do Auxílio Emergencial.
Enquanto Bolsonaro tropeça sem saber aproveitar o vento das boas notícias na economia, Lula demora a ocupar os espaços do centro. Ambos cometem erros que podem custar caro mais adiante. No interior de ambas as campanhas, ventam fortes as divergências sobre o rumo dos candidatos. Para alguns, mais próximos, o presidente é “inassessorável”; quanto ao ex-presidente, há quem o considere capturado por narrativas dogmáticas que não contribuem para consolidar o seu favoritismo. Enquanto venta forte nos bastidores das campanhas dos líderes, a terceira via permanece parada na calmaria oceânica em que se meteu. Somente um fato novo, inesperado, pode tirá-la da letargia. E a terceira via ainda torce para que agosto traga alguma novidade. E o tempo não para. Estamos a nove semanas do primeiro turno. O tempo parece curto, mas as percepções sobre esse período são diferentes para cada protagonista. Para Lula, cada dia parece uma eternidade. Para Bolsonaro, o dia parece ser cada vez mais curto. Para a terceira via, parece que o tempo acabou.
No fim das contas, a lógica cansativa da polarização ruidosa tem prevalecido, mostrando um país que opta por uma disputa de reality show ao invés de se preparar para fazer escolhas racionais. Ironicamente, as duas faces da polarização são, efetivamente, muito parecidas. Sobretudo no sentido de proporem o salvacionismo e se mostrarem messiânicas, como se o mundo fosse uma moeda de duas faces com imagens semelhantes.
Enquanto a briga de rua não chega, tudo vai mais ou menos bem. Mas as perspectivas não são boas. Agosto poderá mostrar o acirramento de embates que venham a eclodir em setembro. Tomara que não. Que os ventos de agosto não se tornem tempestade em setembro e furacão em outubro. O Brasil é um país que, às portas do abismo, aciona mecanismos institucionais de autodefesa. Devemos desejar que tais mecanismos prevaleçam, para impedir tanto loucuras institucionais quanto retrocessos aos avanços reformistas já obtidos.
Publicado em VEJA de 3 de agosto de 2022, edição nº 2800
Fonte e reprodução: Revista Veja – https://veja.abril.com.br/coluna/murillo-de-aragao/ventanias-de-agosto/