Preço do transporte de soja brasileira para a China iguala-se ao dos Estados Unidos

Jonas Oliveira

Durante muitos anos, levar a soja do Brasil para a China custava o dobro do que transportá-la das regiões produtoras dos EUA para o mercado chinês. As coisas mudaram. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA, o preço da logística e do transporte para a soja americana e a brasileira em direção ao mercado chinês praticamente se igualou.

Um importador chinês paga o mesmo para buscar soja em Iowa (EUA) ou em Mato Grosso. Com o detalhe de que a soja de Mato Grosso é de qualidade melhor devido à incidência do sol.
Iowa é o estado norte-americano segundo maior produtor de soja nos EUA. Mato Grosso lidera o cultivo no Brasil. A oleaginosa é usada para praticamente tudo em alimentação – desde ração animal como para óleos de cozinha, além de ingrediente básico em alimentos processados.

E, apesar da disparada do preço do combustível neste ano, que afeta o custo do frete, os problemas logísticos dos EUA eliminaram a distância competitiva da soja brasileira.
Segundo estudo da Universidade da Califórnia em Davis e da Universidade de Connecticut, gargalos da pandemia, como portos congestionados, falta de contêineres e outros, derrubaram em US$ 10 bilhões as exportações agrícolas americanas.

O Brasil, por outro lado, está colhendo agora os frutos dos investimentos feitos no Arco Norte (portos fluviais situados na Amazônia). A rota dos navios, iniciada nesses portos, reduziu em 1.600 quilômetros (dois dias de viagem) para o transporte de grãos do Centro-Oeste até seu embarque em navios. Desde a última década, as exportações de milho e soja pelo Arco Norte foram multiplicadas por seis, segundo a Confederação Nacional da Agricultura.

Desde 2008, o Brasil investiu R$ 290 bilhões em melhorias em portos e rodovias. O Porto de Santos deve ampliar sua capacidade em 50%, para 240 milhões de toneladas anuais em 2040, segundo previsões de Bruno Sétuplo, diretor de Desenvolvimento de Negócios e Regulação do terminal.

Há também o peso do câmbio. O real foi a segunda moeda que mais se desvalorizou frente ao dólar desde o início de 2020, atrás apenas do iene japonês, com queda de 18%.

“O Brasil está mais competitivo, porém uma enorme parte disso é graças ao câmbio – afirma Thiago Pera, especialista em logística na agricultura da Universidade de São Paulo.

“Se os mercados se estabilizarem e o real se fortalecer, esse ganho frente aos EUA será perdido. Então o Brasil precisa investir na infraestrutura a um ritmo maior do que a expansão da produção agrícola nos próximos anos”, completa Thiago Pera.

Mas os Estados Unidos se preparam para reagir. O país prevê fortes investimentos em infraestrutura. Um pacote aprovado pelo governo em 2021 vai destinar US$ 17 bilhões a portos e dezenas de bilhões de dólares a estradas e ferrovias. Ao mesmo tempo, os operadores privados de portos marítimos planejam investimentos de US$ 33 bilhões por ano até 2024.

Especialistas preveem que o Brasil ainda vai enfrentar desafios, como publicou a agência Bloomberg. “Apesar dos avanços recentes, os desafios logísticos vão persistir no Brasil pelos próximos anos, há um enorme déficit em infraestrutura”, afirma Joana Colosso, pesquisadora em agricultura da Universidade de Illinois.

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