Recentemente, durante um encontro com líderes empresariais no Palácio do Planalto, o presidente da República em exercício, Michel Temer (PMDB), afirmou que “essa coisa de ideologia está totalmente fora de moda e as pessoas querem resultados”.
A intenção do presidente foi expor, em outras palavras, que seu governo tem o pragmatismo como marca. Esse pragmatismo pode ser visto nas decisões dos primeiros 30 dias na presidência da República.
Por meio do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o governo tem reconhecido a gravidade da situação econômica do país. Embora a reforma da Previdência esteja em debate e, para agenda, é algo impopular, o governo tem conseguido emitir sinais positivos ao mercado financeiro.
Diferentemente do que ocorria no governo Dilma, o mercado se mostra muito satisfeito com a equipe econômica da gestão Temer, que chegou a ser definida como “dream team”.
Temer e seu modo de governar
Estrategista político, o interino tem sido bastante pragmático também na área política. Depois de construir um ministério como nomes que garantem votos ao governo no Congresso Nacional, o que pode ser percebido nas primeiras votações (em todas elas, o governo venceu com mais de 2/3 de apoio congressual), o presidente em exercício nem mesmo deixou de demitir ministros de sua confiança (caso de Romero Jucá, por exemplo) que apareceram em gravações supostamente tramando contra a Operação Lava-Jato.
Michel Temer também não deixou de recuar na polêmica envolvendo o Ministério da Cultura. Após insatisfações por conta da fusão da Cultura com a pasta da Educação, o que levou a uma série de protestos no meio artístico, voltou atrás e recriou a pasta que havia sido extinta.
Consciente da força do chamado “novo Centrão”, sobretudo na Câmara, o governo também cedeu e acabou aceitando a indicação do deputado federal André Moura (PSC/SE), ligado ao presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), como líder do governo na Casa.
Embora esse pragmatismo seja criticado por alguns, Michel Temer tem agido corretamente do ponto de vista estratégico. Mesmo que tenha que administrar uma popularidade mais baixa num primeiro momento, a adoção de medidas impopulares na economia é fundamental diante da gravidade do cenário econômico brasileiro.
O mesmo ocorre na política. Como Temer depende do Congresso, mais especificamente do Senado, que ainda precisa confirmar o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff no Julgamento Final do processo, tem sido necessário fazer concessões ao meio político para que seja de fato confirmado como presidente da República.
Assim, o pragmatismo é necessário para que se tenha um governo de resultados, o que é fundamental em períodos de crise. Embora a ideologia soe como música para muitos, governos excessivamente ideológicos têm produzido gestões de resultados insatisfatórios tanto na economia quanto na política.