Um discurso breve, transmitido por cadeia de rádio e TV, resumirá, nesta quarta-feira, 31, a mensagem do presidente Michel Temer ao assumir o mandato de dois anos e meio em substituição a Dilma Rousseff, que foi afastada definitivamente do cargo pelo Senado.
Com essa fala curta e uma cerimônia de posse simples, Temer pretende marcar a mudança da interinidade para governo efetivo, uma passagem radical, quando não terá mais que agradar a todos como forma de assegurar a posse para o período que vai até 2018. Aos poucos, ele pretende impor seu estilo, orientação e propostas desde a área política até novos programas de governo, especialmente na área social.
O maior desafio do presidente será agregar a base parlamentar, pois é isso que lhe dará condições de aprovar sua principal meta – o ajuste fiscal. Para isso, terá que transformar em lei a PEC que cria o teto nos gastos do governo e em seguida a reforma da Previdência, considerada essencial para a manutenção do equilíbrio das contas no futuro.
Encerrado o capítulo do impeachment, a preocupação de Michel Temer será tomar medidas destinadas a remover a sensação de governo provisório e dar continuidade à construção da credibilidade para os próximos dois anos. Como parte de sua estratégia para dar feição própria ao governo, Temer avançará, decretando a abertura ao capital privado de todos os setores possíveis.
Programa de concessão
Entre as medidas que devem ser anunciadas após a viagem que Temer fará à China (reunião do G-20), estão um programa de concessões em parceria com os estados, voltado para áreas essenciais como hospitais, creches, presídios e saneamento.
Temer decidiu que não fará anúncios de grandes pacotes. Vai comunicar aos poucos as novidades. Para evitar críticas de que não tem sensibilidade social, instituirá um prêmio para prefeitos com melhor desempenho em projetos na área. Em seguida lançará um programa voltado às quatro milhões de crianças de zero a quatro anos do Bolsa Família – elas passarão a ter apoio multidisciplinar semanal nos primeiros mil dias de vida, e quinzenal a partir dessa idade.
Outro alvo importante será a revisão da política de reajustes salariais de servidores, um dos aspectos mais atacados dos primeiros 100 dias do governo interino. O presidente pretende renegociar essas reivindicações de forma a disciplinar os pleitos, e assim mudar a imagem de vulnerabilidade do governante que não resiste às pressões.
“Temer terá mais autoridade, pois passa a ser presidente da República, e não interino. Vai ser muito mais firme na determinação para aprovar as medidas que nos levem o mais rápido possível ao equilíbrio fiscal”, explicou em recente entrevista o secretário do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), Moreira Franco.
No campo político, Michel Temer trabalhará para evitar a antecipação da sucessão presidencial que está implícita nos desentendimentos entre PMDB e PSDB a respeito dos projetos de reajustes salariais excessivos de funcionários públicos. Os tucanos acreditam que o aval do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a essas iniciativas esconde o projeto de cacifá-lo como candidato do presidente para 2018, enquanto o PSDB faz o papel de vilão ao censurar os reajustes.