Quando, na tarde da última terça, 16, o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) conversava com o Blog da Política Brasileira no café ao lado do plenário da Câmara dos Deputados, não se tinha notícia da bomba que cairia sobre o governo do presidente Michel Temer pouco mais de 24 horas depois. Foi neste cenário que o mais experiente parlamentar brasileiro previu a aprovação da Reforma da Previdência.
“O governo tem votos para aprovar a emenda constitucional da Reforma da Previdência”, avaliou Miro, destacando que votará contra. “Sou contra a reforma, mas sei que vou perder” era, então, o prognóstico. Segundo as contas do parlamentar de 11 mandatos, o governo já teria ultrapassado o mínimo dos 308 votos para aprovar a proposta.
Além da experiência, sua previsão respalda-se na capacidade que ele tem de fazer análises independentes, com o distanciamento possível a um político. Exemplo: quando provocado a comentar a dependência de Temer dos mercados, Miro concordou, destacando que isso não é necessariamente ruim. E acrescentou: com Lula não foi diferente.
A indecisão como artifício
Na mesma conversa, anterior à hecatombe das revelações do maior dono de abatedouros do mundo, Joesley Batista (JBS), reveladas pel’O Globo, Miro detalhou o plano governista. Boa parte dos deputados valiam-se da condição de indecisos nas declarações a jornalistas como subterfúgio para valorizar o voto e evitar patrulhamentos. E, com isto, conseguir cargos e verbas para seus municípios.
Também era certo que deputados não iriam votar a Reforma da Previdência antes que o Senado concluísse a apreciação da Reforma Trabalhista. Era uma forma de conseguir cumplicidade dos colegas da Câmara Alta.
Na sua visão, o governo poderia, se necessário, ceder mais do que já cedeu. Neste ponto, fez um comentário sobre o presidente da República, de quem se considera “amigo” – embora hoje estejam em campos opostos no espectro político. Como negociador, avaliou, Temer “tem a dose do equilíbrio”.
O que é isso? É saber “o mínimo que não pode deixar de ser feito e o máximo que não pode ser ultrapassado. Senão dá processo crime”. Na sequência, Miro assegurou que o presidente “tem a noção perfeita disso”. Pausa. “Pelo menos, tinha”.
Desaprendendo a negociar
Provocado, Miro disse que o presidente “conhece perfeitamente o limite da negociação”. Nova pausa. “Pelo menos conhecia enquanto era deputado. Lá no Planalto, eu não sei se manteve esta virtude”.
Pode ter sido um caso de análise premonitória. Ou simplesmente experiência e capacidade analítica. Certo é que Michel Temer tinha a Reforma da Previdência engatilhada. Depois do torpedo da JBS, provavelmente não vai mais disparar o gatilho.
Somada à inflação e aos juros em queda, ao emprego em recuperação, ao aceno dos investidores, desenhava-se na quarta-feira o cenário virtuoso para a volta da normalidade econômica e política no castigado Brasil que adveio da era PT. Temer, ao que parece, desaprendeu a negociar. Esqueceu a virtude.
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Pós-hecatombe
Logo após a primeira notícia da delação do dono da JBS, Miro Teixeira comentou a situação de Temer para o Blog da Política Brasileira. Veja o que disse o deputado a Nathalia Pedrosa: