As pesquisas Ibope e Datafolha divulgadas nessa semana confirmaram o forte crescimento de João Doria Júnior (PSDB), que agora aparece na liderança e tem uma vaga praticamente assegurada no segundo turno na disputa pela prefeitura de São Paulo (SP).
A dúvida é saber quem será o adversário do tucano. Celso Russomanno (PRB), após registrar uma forte queda nas últimas semanas, pode ter chegado ao seu piso. Sua intenção de voto (24% no Ibope e 22% no Datafolha) é similar aos 21% que obteve no primeiro turno da eleição de 2012, quando ficou em terceiro lugar.
Nas duas sondagens, Marta Suplicy (PMDB) está em queda, tendo perdido cinco pontos. A possível estabilização de Russomanno na reta final e a queda de Marta na última semana de campanha indica que o candidato do PRB possui uma leve vantagem sobre a representante do PMDB na disputa por uma vaga no segundo turno.
No Ibope, Doria cresceu 11 pontos percentuais e está numericamente à frente de Russomanno (ver tabela abaixo). O candidato do PRB voltou a cair na comparação com a pesquisa anterior, mas ainda está na frente de Marta. Além de perder pontos e ficar mais longe de Russomanno, Marta vê Fernando Haddad (PT) se aproximar.
No Datafolha, João Doria Júnior cresceu cinco pontos, saiu da condição de empate técnico com Celso Russomanno e está na liderança. A sondagem aponta que Russomanno parou de cair, enquanto Marta Suplicy está numa trajetória de queda. Fernando Haddad (PT) oscilou positivamente dentro da margem de erro, mas apresenta uma tendência de alta. Assim como no Ibope, Haddad está tecnicamente empatado com Marta.
Ao trocar o PT pelo PMDB, flexibilizar seu discurso e firmar uma aliança com o PSD, Marta Suplicy operou um reposicionamento em sua imagem. O objetivo era dialogar com os paulistanos que a rejeitavam (majoritariamente o segmento de maior renda e escolaridade) ao mesmo tempo em que contava com sua histórica base eleitoral nas periferias de São Paulo.
Inicialmente, Marta conseguiu atrair parte do eleitor paulistano que a rejeitava e dividia a periferia com Celso Russomanno, Fernando Haddad e Luiza Erundina. O problema foi que, a partir da expansão de Doria, o segmento de maior renda e escolaridade acabou abandonando Marta e migrando para o candidato do PSDB.
Atacada por Doria, que lembrou sua militância de mais de 30 anos no PT, o movimento inicial feito por Marta para se posicionar mais ao centro acabou sendo visto com desconfiança.
Paralelamente a isso, a ida para o PMDB e seu voto em favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a defesa de propostas impopulares como a PEC dos Gastos, por exemplo, acabou sendo explorada por Haddad e Erundina, principalmente, como um sinal que Marta havia “trocado de lado”.
A consequência é que Marta Suplicy está perdendo votos de dois lados. Entre os anti-petistas que estavam com ela e também junto ao eleitor da periferia.
Geralmente o movimento feito por Marta em direção ao centro, quando funciona do ponto de vista estratégico, traz muitas vantagens, pois atrai eleitores dos dois lados do tabuleiro. Porém, quando contradições são exploradas, a sangria também ocorre dos dois lados, o que está ocorrendo com a candidata do PMDB.
Na reta final da campanha, Marta Suplicy partiu para tudo ou nada. Correndo o risco de ficar fora do segundo turno, seu programa de TV está apostando na chamada campanha negativa.
Marta explora o fechamento de um bar em Brasília que Russommanno era um dos sócios. Utilizando matérias divulgadas na imprensa, o candidato do PRB é acusado de não pagar os direitos trabalhistas de seus funcionários, que ingressaram na justiça contra ele. A campanha aborda o tema do fechamento desse bar como um sinal que Russomanno não tem capacidade administrativa para comandar uma cidade com a complexidade de São Paulo.
Como dificilmente Marta conseguirá recuperar os eleitores que perdeu para Doria, principalmente entre os de maior renda, apostará na desconstrução de Russomanno para tirar votos dele na periferia da cidade.
Mesmo tendo demonstrado fragilidade ao longo do primeiro turno, Russomanno tem hoje mais chances de chegar ao segundo turno contra Doria. Marta, além de perder eleitores para o candidato do PSDB, também precisa lutar contra a pulverização do voto de centro-esquerda, visto que Fernando Haddad e Luiza Erundina também possuem penetração nesse público.
Os últimos dias de campanha em São Paulo prometem ser eletrizantes. Apesar da maior possibilidade de Russomanno chegar ao segundo turno, ainda é uma incógnita o efeito dos ataques que Marta está desferindo sobre o candidato do PRB. Caso a campanha negativa funcione, Russomanno caia e Marta cresça, os dois concorrentes podem chegar praticamente empatados ao dia da eleição.