A conjuntura mudou. Para melhor ou para pior? A maioria pensa que para melhor, sobretudo do ponto de vista econômico. Mas, garantias inexistem. Todos os analistas estão preocupados em desvendar o futuro. O problema é que os sinais de recuperação econômica são excessivamente débeis para que se possa dizer algo mais substantivo. Vivemos, ainda, de conjecturas e incertezas.
Por outro lado, as manifestações, do lado minoritário, começaram. Por enquanto, concentradas em São Paulo e mais uma ou duas cidades, mas que podem se espraiar. Elas se alimentam do insucesso. Se Temer conseguir dar um rumo de vitória sobre a recessão, as manifestações declinam. Caso contrário, paralisam o País. Isso se não ocorrer vítimas, pois estas são a melhor alimentação dos confrontos. Um cadáver, e o fogo se alastra nas ruas.
Entre aqueles que tentam decifrar o que o futuro nos aguarda, estão as empresas de consultoria. Uma delas, a Macroplan, tem realizado sucessivas sondagens junto a empresários, executivos de empresas públicas e privadas, e analistas em economia, ciência política e gestão. Quase 80 especialistas foram consultados por três vezes. A primeira em maio, a segunda em junho e, agora, em agosto. Com as mesmas questões.
Qual o percentual de probabilidade de um determinado cenário ocorrer?
Os cenários submetidos a opinião dos entrevistados foram quatro. O primeiro, sucesso amplo, supõe, após o afastamento da Dilma, a realização do ajuste e das reformas pelo novo governo, com ganho da confiança dos empresários e retomada do crescimento de forma vigorosa em 2018. O segundo cenário, sucesso parcial, supõe que os ajustes e as reformas serão realizados de forma precária, e o crescimento econômico retoma moderadamente em 2018, pois não há muita confiança do mercado.
Com ajuste e reformas muito parciais, o governo não ganha a confiança do mercado, os investimentos não ocorrem e o crescimento econômico não retorna, é o terceiro cenário, fracasso parcial. Neste caso, cresceriam as manifestações contrárias ao governo. O quarto cenário, fracasso total, a recessão ganha asas, sem ajustes, sem reformas e sem confiança do mercado. Cenário que namora com o caos. É pouco crível, mas, em se tratando de cenários, é necessário considerar todas as hipóteses factíveis, mesmo, e sobretudo, as menos prováveis.
É interessante observar como as expectativas dos empresários e especialistas evoluíram ao longo dos últimos três meses. Os dois primeiros cenários, que supõem um sucesso, total ou parcial, do governo Temer subiu de 58% para 67%. Portanto, 2/3 acreditam que o governo recém empossado terá algum sucesso em sua trajetória até 2018. E o cenário com mais probabilidade de ocorrer, sempre segundo os entrevistados, é o do sucesso parcial que progrediu de 45% para 52%. O de sucesso total é bem menos provável, 15%.
No outro campo, os cenários que desenham um fracasso do governo Temer, soma 33%, com destaque para o terceiro, fracasso parcial, 29%. Antes, os que esperavam um fracasso do governo atual eram quase a metade dos entrevistados, 42%.
Os cenários estão assentados em três variáveis: medidas de ajuste, reformas e confiança do mercado, sendo a terceira uma variável de decorrência. As duas primeiras variáveis, embora pareçam puramente econômicas, dependem de muita negociação política. Dependem de leis aprovadas no Congresso Nacional. O que a torna uma quarta variável, e de muita importância.
Há que considerar também uma quinta, o comportamento das ruas. E a nova oposição, o PT, já percebeu que o seu sucesso nas eleições de 2018 reside na possibilidade de se reatar com a população, pois a narrativa do golpe é bom para produzir a coesão dos seus, mas não para ganhar a maioria. A tentativa de obter esta via já se iniciou.
Há 15 dias a direção do partido havia derrotado por 14 votos a 2, a proposta na carta da Dilma de plebiscito para eleições diretas. Agora voltou atrás, porque tem pesquisas que dizem claramente que o povo não quer nem Dilma, nem Temer, prefere eleições diretas para novo presidente. Proposta que a Marina faz desde o inicio de 2015, mas com outros argumentos. A nova decisão do PT é boa como estratégia partidária, mas ruim para a estabilidade do País. Contudo, isso pouco importa para partidos sequiosos do poder.
Se Temer não acertar, as manifestações, ainda precárias, irão ocupar dezenas de cidades com milhares de pessoas nas ruas. Neste caso as negociações políticas tornar-se-ão mais difíceis e um círculo vicioso se constituirá, com instabilidade e recessão crescentes.
No fim de contas, os quatro cenários podem ser reduzidos a dois: a construção de um círculo virtuoso de retomada do crescimento econômico, mais ou menos intenso, ou um círculo vicioso, de aumento da recessão e da instabilidade, também mais ou menos forte. Por enquanto, as maiores expectativas pendem para o círculo virtuoso. Tenderão a se consolidar ou recuarão?