Protagonistas do jogo político enfrentam desgaste


PT e PSDB, os dois partidos protagonistas da política nacional nas últimas seis eleições presidenciais (1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014), passam por um período de desgastes, desafios internos e incertezas.

O PT encontra sérias dificuldades para achar seu rumo. A crise interna se intensifica diariamente naquele que já foi considerado o maior partido de esquerda da América Latina. Na semana passada, ao anunciar sua desfiliação da sigla, o ex-ministro Antonio Palocci divulgou uma carta que “explodiu” como uma bomba no PT.

Palocci disse ter presenciado casos de corrupção nos governos petistas e centrou as críticas no ex-presidente Lula (PT), descrevendo o episódio como “o chocante desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o país construiu em toda a nossa história”.

O forte conteúdo da carta de Palocci fragiliza Lula ainda mais. Vale destacar que também na semana passada a defesa do ex-presidente “se enrolou”, ao apresentar ao juiz Sérgio Moro recibos do aluguel de um imóvel usado pela família do ex-presidente com datas inexistentes.

Não bastasse isso, o também ex-ministro José Dirceu (PT-SP) teve sua pena aumentada de 20 para 30 anos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), no Rio Grande do Sul, na apelação criminal do núcleo Engevix.

Com sua imagem cada vez mais abalada, o partido começa a trabalhar internamente no chamado plano B. Não por acaso na quarta-feira passada (27), durante passagem por Porto Alegre (RS), Lula esteve acompanhado do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, cotado na bolsa de apostas como um potencial candidato ao Palácio do Planalto pelo PT.

Grande vencedor das eleições municipais de 2016, a situação do PSDB também é delicada. Embora o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha negado na semana passada a prisão do senador Aécio Neves (PSDB-MG), a decisão de afastá-lo do Senado, assim como de determinar seu recolhimento noturno, causa constrangimento entre os tucanos.

Mesmo que a tendência seja de o plenário do Senado derrubar a decisão, o desgaste para a imagem do PSDB é inevitável, pois, até pouco tempo, Aécio era uma importante liderança nacional da sigla.

Além disso, o episódio tem potencial para ampliar a divisão interna no ninho tucano. Um exemplo disso ocorreu após o deputado federal Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), ligado a Aécio, ter sido escolhido pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), como relator da segunda denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer (PMDB).

Favoráveis ao desembarque do PSDB da base aliada, o presidente em exercício do partido, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), e o líder tucano na Câmara, Ricardo Tripoli (PSDB-SP), pressionam para que Bonifácio de Andrada abra mão da relatoria.

Não é apenas a posição em relação ao governo Temer que desgasta o PSDB. Também na semana passada o economista Gustavo Franco, um dos formuladores do Plano Real, se desfiliou da sigla e anunciou o ingresso no Partido Novo.

Em carta enviada ao Instituto Teotônio Vilela (ITV), criticou os “erros” de líderes tucanos e a “hesitação” diante das ideias pró-mercado.

Embora não seja um líder “com voto”, a saída de Franco é negativa para o PSDB, pois pode levar o grupo de economistas tucanos que defende o desembarque do governo Temer a tomar o mesmo caminho. Não bastassem todos esses problemas, o PSDB paulista continua assistindo à intensa disputa entre o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria pela candidatura presidencial em 2018.

O desgaste de PT e PSDB é um fator que aumenta as incertezas da sucessão presidencial no próximo ano. Caso Lula não seja candidato, dificilmente seu partido terá um nome eleitoralmente viável. Já o PSDB, além de hoje ter perdido o espaço de antagonista de Lula para o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), corre o risco de enfraquecer-se ainda mais, principalmente se Doria sair da legenda para disputar o Palácio do Planalto por outra sigla.

Postagens relacionadas

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Possível liberação do aborto de fetos com microcefalia pelo STF é criticada na CAS

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Saiba mais