Por enquanto, espontânea e rejeição é o que interessa nas pesquisas


O alvoroço em torno das pesquisas de intenção de voto se justifica. Afinal, o grau de credibilidade de alguns institutos de pesquisa, como o Datafolha, torna-se um dos poucos referenciais concretos diante do achismo de palpiteiros.

Mas, intenção de voto, por óbvio, não é voto. Tirante uma parcela de militantes e sequazes, a maioria ou não tem candidato ou não está interessada em votar.

Dessa forma, o que realmente interessa nas pesquisas de intenção de voto a esta altura do jogo eleitoral são a declaração espontânea de voto e a rejeição. O primeiro sempre fica em índices muito baixos, mesmo para campeões de voto como Lula.

Tem valor porque assinala as referências relativamente enraizadas no eleitorado. Não indica, porém, que este contingente vai se expandir a ponto de indicar, ao menos, segundo turno.

Já a rejeição, ao contrário, exibe dado mais sólido. Quem não gosta de um candidato tende a preservar este sentimento até o dia do pleito.

Sobretudo dos candidatos muito conhecidos. Neste caso, a antipatia costuma ter maior solidez.

 

Azarões, FHC e Doria vencem

Alguns exemplos de tendências que se mostraram equivocadas.

Pesquisa divulgada em 3 de setembro de 2014 indicava Marina Silva (33%) em empate técnico com Dilma Rousseff (37%) e muito à frente de Aécio Neves (15%). Na simulação de segundo turno, Marina tinha 46% e Dilma, 39%.

Pouco antes, em 29 de agosto, o Datafolha chegou a pontuar empate entre as duas candidatas já no primeiro turno. Ambas despontavam com 34% das intenções de voto numa arrancada sensacional de Marina.

A simulação de segundo turno dava à herdeira de Chico Mendes vitória fora da margem de erro (50% x 40%). Como se sabe, Dilma e Aécio foram ao segundo turno.

João Dória, na disputa pela prefeitura de São Paulo em 2015, tinha minguados 5% de intenções de voto em 26 de agosto. Quatro candidatos brigavam na dianteira pelo habite-se do Palácio Matarazzo – na dianteira, Celso Russomanno, com 31%.

Dória não apenas ultrapassou todos os contendores, como conquistou uma inédita vitória em primeiro turno. Em um mês, o efêmero prefeito paulistano angariou 33 pontos percentuais do eleitorado da cidade mais rica do Brasil.

Na corrida presidencial de 1994, pesquisa publicada pela Folha de S. Paulo em 27 de maio indicava Fernando Henrique Cardoso 23 pontos atrás de Lula. Lula estava na dianteira com 40% das intenções de voto e FHC com 17%.

Sensações que este escrevinhador não esquece, pois informou em primeira mão o resultado da pesquisa a um dos protagonistas daquele pleito. Menos de seis meses depois, o tucano conquistava seu primeiro mandato com 54% contra 27% de Lula.

 

Desinteresse

Sim, houve o Plano Real, que desequilibrou aquele pleito. Eis que voltamos para 2018.

Com a Lava-Jato retomando o fôlego, Lula fora do páreo, o eventual fim da bipolarização PT x PSDB, a direita sem vergonha, a esquerda desnorteada, a Suprema Corte feita biruta de aeroporto e candidatos aos borbotões… difícil moldar qualquer cenário. Nem mesmo o distante 1989 e seus 22 candidatos servem de parâmetro.

Fato, leitor, que, se pudesse, metade dos eleitores ficaria em casa no dia eleição. Nenhuma idiossincrasia brasiliana.

O desinteresse pela política é mundial. Ficar em casa, mais do que um direito – não no Brasil -, é um ato político.

Assim, olho nas manifestações favoráveis espontâneas dos eleitores. E na rejeição.

Não é muito, mas são indicadores mais seguros do que as demais respostas de entrevistados a entrevistadores. Estas são apenas cintilações bruxuleantes na cerração que teima em turvar o imprevisível horizonte tupiniquim.

 

* Itamar Garcez é jornalista

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