Em duas semanas, o presidente interino Michel Temer conseguiu atacar de forma determinada a crise econômica, com a escolha de uma equipe de grandes operadores. No Congresso, ainda enfrenta obstáculos, com o jogo duro do centrão na barganha por posições políticas.
ANDRÉ MOURA
Dependente dos votos do centrão, Michel Temer cede na indicação do líder do governo e se expõe a duras críticas
Forte aliado de Eduardo Cunha, o deputado sergipano gerou uma crise ao ser escolhido líder do governo. O presidente Temer cedeu à pressão diante do poder dos eleitores de Moura: o bloco de 13 partidos que somam metade dos 513 parlamentares. Moura é acusado de tentativa de homicídio, roubo de verba pública para fazer uma festa e compra de notas frias. Para consolidar maioria e assegurar a aprovação de medidas impopulares, o presidente interino depende da boa relação com o centrão. Com os votos de PMDB, PSDB e DEM, Temer montou uma base sólida, mas expôs o governo à contaminação tóxica da companhia de Moura.
ILAN GOLDFAJN
Próxima reunião para decidir os juros acontece nos dias 6 e 7 de junho, mas participação de Ilan ainda é incerta
O convite de Henrique Meirelles ao economista-chefe do Itau Unibanco para comandar o Banco Central preparou o terreno para a boa recepção do pacote que o governo anuncia nesta segunda-feira, 23. Sua indicação será analisada pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, comandada pela petista Gleisi Hoffmann, e votada pelo plenário. Para compensar a perda de status de ministro, Temer vai propor a “autonomia técnica” da instituição para que as decisões da diretoria não sejam questionadas e foro privilegiado para toda a diretoria. As duas mudanças estarão em uma proposta de PEC a ser enviada ao Congresso.
EDUARDO CUNHA
O presidente da Câmara afastado perde margem de manobra e é obrigado pelo Judiciário a recuar em seus movimentos
Depois do afastamento determinado pelo Supremo, o poder inquestionável do deputado sofre desgaste sistemático, que pode empurrá-lo para a cassação em plenário. Para escapar da ameaça, Cunha manobra em várias direções. Emplacou aliados no governo Temer e deixa claro que uma eventual delação à Lava-Jato complicará a vida de muitos políticos até agora fora do alcance das investigações. Acossado pelo Judiciário, Eduardo Cunha ficou sem alternativas a não esperar a decisão do Supremo. Na semana passada, não conseguiu uma boa performance no Conselho de Ética e desistiu de voltar a frequentar a Câmara.
PEDRO PARENTE
Ex-faz-tudo de Fernando Henrique é indicado para presidir a Petrobras com a missão de ressuscitar a estatal
Depois de preencher o segundo escalão com um time de notáveis, o presidente Temer definiu que novo presidente da Petrobras é o tucano Pedro Parente. Considerado o maior gestor da Era FHC, ele terá a missão de reerguer a estatal, que deve R$ 450 bilhões. Responsável pela administração da maior crise energética do país – o apagão de 2002 –, Parente foi bem recebido pelo mercado, embora sindicalistas do setor o consideram um liberal determinado a privatizar a empresa. Focado na tarefa de blindar a petroleira da Lava-Jato, Pedro Parente passará pelo conselho da estatal sem grandes riscos de rejeição.
JOSÉ SERRA
Senador põe nova política externa em prática e consolida-se como nove forte na equipe econômica e candidato em 2018
Em duas semanas de trabalho, avançou rapidamente na proposta de pôr em prática a nova política externa definida pelo governo Temer. Escalou nova equipe, criou um decálogo para orientar os embaixadores, rebateu críticas de países alinhados ao populismo latino-americano e abriu as portas para negociações bilaterais mais efetivas na área comercial. Candidato à Presidência em 2018, Serra é o tucano que foi mais longe na corrida pelo sonho. Com uma avaliação de bom desempenho em menos de dois anos de mandato, o senador é tido como homem forte do presidente Temer no esforço pela estabilização da economia.