Se quiser ocupar o 3º andar do Palácio do Planalto a partir de 2019, Fernando Haddad (PT) precisará convencer 10 milhões de eleitores que tencionam votar em Jair Bolsonaro (PSL) a mudar de lado. O cálculo é baseado na última pesquisa do Datafolha de intenção de voto divulgada nesta quarta, 10.
De acordo com o instituto, a diferença entre ambos é cerca de 20 milhões de votantes. Equivalem, por exemplo, à soma dos eleitores do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Como são apenas dois contendores, cada eleitor que deixar de votar em Bolsonaro e aderir a Haddad conta em dobro. Virando 10 milhões de votos, Haddad alcança seu adversário.
Claro, não é tão simples assim. O Datafolha apontou 14% de votos branco, nulo, nenhum e não sabe.
Neste contingente de indecisos e indiferentes, 1 voto convertido vale exatamente 1 voto. Além disso, o número de brancos, nulos e abstenção costuma ser muito mais alto do que os 14% apontados pelo instituto.
Ira como conselheira
Em 2014, quando Dilma Rousseff (PT) derrotou Aécio Neves (PSDB), este índice ficou próximo de um terço do eleitorado (27,4%). Numa eleição, como a de 2018, onde a ira e a rejeição são duas importantes conselheiras, não será espanto se esta percentagem se repetir.
Caso a soma de brancos, nulos e abstenção alcance esta proporção, os 10 milhões de votos citados provavelmente diminuem, já que o cálculo aqui exposto considera os 14% registrados pela pesquisa de intenção de voto do Datafolha. Ou seja, à medida que este percentual ultrapasse os 14% o candidato do PT precisaria reverter menos votos.
De sua parte, Haddad terá que convencer o eleitor de Bolsonaro (que quer mais segurança, menos corrupção, mais respeito aos valores tradicionais cristãos, menos politicamente correto) que o PT é mais capaz do que o PSL. Além disso, precisará torcer por um imenso escorregão do capitão da reserva.
Enfim, a empreitada de Haddad não será fácil. Impossível não é, mas é muito difícil. Enquanto isto, Bolsonaro tem que se concentrar em preservar os votantes que já estão com ele.
* Itamar Garcez é jornalista