O risco de 2018


Inverno de 1988, na China. Collor e seu cunhado conversam sobre a situação do Brasil. Este está sorumbático com a notícia que acaba de receber: o candidato à presidente do PSDB, Mario Covas, não o quer como vice.

Seu cunhado conta-lhe sobre uma pesquisa recente a respeito da imagem do presidente desejado pela população, que corresponde a grosso modo com a imagem política do governador de Alagoas: jovem, perseguidor dos marajás e opositor ferrenho ao presidente Sarney.

Sugere que ele se candidate, pois terá um bom desempenho, o que lhe tornará um politico nacional. Collor muda de humor e decide candidatar-se.

O pleito presidencial de 1989 – ano em que caiu o Muro de Berlim – teve 21 candidatos, além de Collor de Melo, que em janeiro daquele ano tinha exatos 2% de intenção de voto. Eram candidatos, figuras importantes da República, como Aureliano Chaves e Ulysses Guimarães; políticos aguerridos como Afif Domingos e Mario Covas; populistas como Brizola e Paulo Maluf; representantes da nova esquerda como Lula, Gabeira e Roberto Freire, e mesmo um jovem médico representante do agronegócio, Ronaldo Caiado, além da primeira mulher, Lívia Abreu do Partido Nacionalista e o famoso Enéas Carneiro (“Meu nome é Enéas”), do Prona, entre outros de menor expressão.

A dispersão dos votos levou a que os extremos fossem favorecidos, e dentre eles os brasileiros tiveram que escolher seu presidente. Os personagens do centro, da socialdemocracia ou do tradicional populismo, ficaram para trás. Leonel Brizola ficou em terceiro lugar e Mario Covas, do recente PSDB, em quarto.

O que 2018 tem a ver com 1989?

Aparentemente, hoje, o quadro é semelhante. Anunciado ou comentado tem-se mais de uma dúzia de candidatos, nem todos ainda formalizados. Hoje, há figuras que já se candidataram como Geraldo Alckmin, Marina Silva, Cristovam Buarque, Lula da Silva ou Ciro Gomes.

Figuras mais ou menos recentes na política como João Doria, ou sem experiência eleitoral anterior, como Joaquim Barbosa e Valéria Monteiro. E outras figuras políticas antigas, mas que jamais se candidataram a presidência, como Jair Bolsonaro, Fernando Haddad ou Álvaro Dias.

Além de técnicos renomados como Henrique Meirelles e Paulo Rabelo. Já somam mais de uma dúzia, embora não seja ainda certo que todos se apresentarão. Em contrapartida, devem surgir candidatos sobre os quais ainda não se fala, além dos tradicionais do PSOL e cia. Não deveremos chegar a 22, mas tendemos a superar 12.

Em parte, isso se deve ao fato de que há uma parcela significativa de eleitores que não manifesta preferência clara por qualquer daqueles candidatos, com exceção de Valéria Monteiro, Paulo Rabelo e Cristovam Buarque, que ainda não ingressaram na lista dos institutos de pesquisa. Há um sentimento de que a maioria dos eleitores busca algo novo, distinto dos políticos que aí estão.

Caso não surja um novo candidato estaremos ameaçados de repetir, no segundo turno, o ano de 1989. Naquela ocasião tivemos que escolher entre um líder operário despreparado, com um partido repleto de ideias irrealizáveis, e um líder liberal, igualmente despreparado, sem qualquer vínculo orgânico com o empresariado. Deu no que deu.

Horizontes

Hoje parece que teremos que escolher, no segundo turno, entre um modelo populista ultrapassado (Lula, caso seja candidato, ou Ciro Gomes, se Lula o apoiar) e um autoritarismo desraigado (Bolsonaro). Um e outro sem condições de conduzir o País para um futuro sustentável.

No segundo caso, um retrocesso inimaginável em uma sociedade democrática. O argumento de que ambos já atingiram seu teto não impede o cenário desenhado. Lembremo-nos que Lula foi ao segundo turno com menos de 17% de votos, e Bolsonaro tem cerca de 19% de intenção de votos.

É possível construir uma candidatura alternativa, capaz de ganhar as eleições e governar, fazendo as reformas de que o País precisa: previdenciária, tributária, educacional, política e de gestão pública? Um governo que desamarre o Brasil e o faça ingressar, finalmente, no século XXI?

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