Na terça-feira, 10, o governo da Catalunha proclamou a Independência da Província, mas anulou os seus efeitos, ou seja, fez e desfez algo que não encontra respaldo em praticamente lugar algum. Uma Catalunha independente poderá aflorar ainda mais o sentimento nacionalista local, mas do ponto de vista prático, resultará em um desastre para a própria região.
Ao que parece, os líderes independentistas se deram conta disso depois da insuflar a população contra Madri. Menosprezaram a capacidade do Estado em aglutinar posições unionistas que tornaram a independência uma caricatura de processo político.
O único resultado tangível logrado pelos sececionistas diz respeito às 540 empresas que decidiram abandonar a Catalunha. A instabilidade gerada por uma meia independência promete impactos negativos ainda maiores. Importante destacar que a Catalunha responde por 19% do PIB espanhol.
Fora da União Europeia e com as fronteiras literalmente fechadas, a Catalunha sentiria rapidamente o gosto amargo de uma decisão marcada por uma sucessão de erros. Este processo tampouco interessa para a própria comunidade europeia ainda abalada com o Brexit.
Por trás da pretensa independência catalã, estão muitos outros interesses, grande parte deles ainda obscuros para a maior parte dos analistas. No entanto, trata-se de um movimento que pode impactar a unidade europeia de forma contundente, ascendendo outros processos que colocariam em risco um modelo invejável de integração.
Mas, não são apenas os aspectos econômicos e comerciais que deveriam pesar. Há muito mais em jogo e a segurança é um desses elementos. É improvável que a União Europeia abra mão de atuar no Mediterrâneo, dados os cenários atuais. É claro que um comércio fluido e mais desenvolvimento são sempre importantes para frear tensões, mas não será apenas o comércio que ditará o futuro europeu frente a movimentos independentistas.
A União Europeia, como bem diz o seu Embaixador no Brasil, João Gomes Cravinho, “está consolidada como ator global, que projeta os seus princípios e valores no mundo e promove a paz e a estabilidade através do multilateralismo”. Tanto ele como a esmagadora maioria dos especialistas acreditam que a paz na Europa tem sido assegurada principalmente graças à UE. E isso não é pouca coisa.
Talvez o ressurgimento do ultranacionalismo faça com que determinadas decisões sejam melhor refletidas. Caminhamos para uma realidade onde as fronteiras deixarão de existir por completo, com o pleno trânsito de bens, serviços e pessoas?
Por outro lado, a forma como essa união fora forjada inspira regiões como a América Latina, cujas desigualdades são tão grandes quanto as diferenças que nos separam. Apesar dos esforços, não conseguimos dar passos objetivos em termos de unidade mesmo tendo a União Europeia como modelo.
A América Latina se ressente de lideranças capazes de promover este processo. Ainda patinamos nas ideologias que atrasam cada vez mais o nosso fortalecimento como ator global.