O Brasil acordou nesta quinta-feira, 17, com a necessidade de encontrar um líder para encaminhar a saída para crise política que completou um ano sem sinal de solução. Isso tornou-se uma urgência depois que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal o afastamento de Eduardo Cunha do mandato e do cargo de presidente da Câmara.
Até esse momento, havia uma presidente da República destituída e o presidente de uma das Casas legislativas no comando de uma série de iniciativas que faziam o poder convergir para ele. Comandava a o impeachment da presidente, ditava a pauta legislativa, obstruía a tentativa de ajuste fiscal e obstruía os adversários que queriam a sua cassação. Essa última, a propósito, foi a razão alegada para tirá-lo da cadeira de chefe.
Em seu apoio, involuntariamente trabalhava o próprio Supremo, cuja sessão destinada a ditar o rito do impeachment deverá aprovar os procedimentos que Cunha tem determinado. Se, em seguida, O STF referendar o pedido do procurador, criará uma situação muito particular, daquelas às quais costumamos aplicar o carimbo “só no Brasil acontece isso” – vacância do cargo vazio do responsável pela administração do processo contra a presidente.
A situação deverá contribuir inclusive para devolver ao jogo o mais importante dos personagens do roteiro que se desinteressara pelo tema: as ruas. Uma das razões que explicavam tal ausência era o protagonismo do presidente da Câmara. Os interpretes do fenômeno argumentavam até aqui que os adversários de Dilma Rousseff haviam recolhido suas bandeiras porque a mais importante delas – o impeachment – fora roubada pelo o último político com credibilidade para assumir esse papel.
Seu nome? Eduardo Cunha. Sempre ele. O corolário desse teorema era a impossibilidade de mudança. Como as coisas tendiam a ficar como estavam, as ruas não tinham porque voltaram a protestar. Mas, de repente, “como só acontece no Brasil”, um personagem coadjuvante, como Rodrigo Janot, entra em cena com uma fala fora do script. Dependendo da resposta do Supremo, a liderança que faltava tem que obrigatoriamente aparecer. Como diz o vice-presidente Michel Temer, falta “alguém”. Falta alguém para assumir a gestão do impeachment.