O “Dia do Fico” tucano, na última segunda-feira, quando o partido anunciou sua permanência no governo Temer, foi meio chocho, sem muita ênfase e cheio de asteriscos e notas de rodapé. A barreira analítica para avaliar se PSDB ficaria ou não no governo foi superada na semana passada: o julgamento do TSE.
No entanto, a reação popular e da imprensa foi bem mais forte do que muitos tucanos esperavam. Isso terminou por trazer mais dúvidas do que certezas em relação à sua permanência na administração ou não.
A partir daí, quais são as grandes perguntas que fazem parlamentares e membros do alto escalão do partido ainda se fazem?
Segundo conversa com um parlamentar tucano do grupo que defende a permanência do partido na base aliada do presidente Temer, eis alguns pontos que justificam tal decisão:
A agenda reformista do governo é a agenda do PSDB. De acordo com esse deputado, a agenda “é tanto ou mais do PSDB do que do próprio PMDB”. Para esse grupo, o desenrolar dos eventos nas próximas semanas será crítico para revitalizar a Reforma da Previdência e para garantir a Reforma Trabalhista. “A análise sobre a oportunidade de aprovar não é de médio prazo, é uma análise na noite anterior a votação”, disse.
Maior do que os pontos acima, o grande fator que mantém a postura de certos tucanos de alta patente no governo é 2018. Independentemente de qualquer análise emocional do momento, o PMDB ainda é o partido mais poderoso do Brasil. Possui mais de mil prefeituras, sete governadores, 60 deputados e 22 senadores.
Essa potência política, por mais que esteja se deteriorando rapidamente por vários fatores, ainda oferece uma envergadura que faria do PSDB um favorito ainda mais forte para 2018. Caso haja uma saída do governo agora, o PSDB procurará fazer isso cirurgicamente, buscando personalizar as razões e tentar manter uma unidade de agenda com o PMDB.
Para aqueles que defendem a saída do PSDB da base aliada imediatamente, a análise de timing é diferente da feita pelos que defendem a permanência. Muitos enxergam as possibilidades de seguir a agenda de forma mais pessimista e acreditam que o impacto da internet nas eleições de 2018 pode diminuir o poder de fogo do PMDB.
Por mais que o “grupo da saideira” confirme que a agenda foi o que os uniu ao PMDB após o impeachment de Dilma, e as reformas eram os pontos principais da agenda, para eles os recentes episódios mataram o que já estava difícil.
“Aprovar a Reforma da Previdência se tornou uma tarefa complicadíssima. Mais do que a dificuldade intrínseca, é a falta de ambiente”, foi a opinião de um tucano defensor da saída. A Reforma Trabalhista nem entra no mérito da análise, pois muitos consideram que a aprovação dela já é certa.
O ponto defendido pelo “grupo da permanência”, sobre a conclusão legal dos fatos para, aí sim, definir a permanência, já não é de importância vital para o grupo da saída. “O estrago já foi causado pela imprensa e pela opinião pública. Não é a decisão legal que mudaria tudo”, afirma.
Finalmente, uma parcela pequena dos que defendem a saída tucana argumentam que seria possível vencer uma eleição em 2018 sem o PMDB. “Contra o PT e o PMDB no auge do poder, perdemos a presidência por erros próprios”, é a visão de um assessor tucano. Além disso, o temor de ficar com a imagem anexada à imagem que o PMDB tem tido nos últimos meses é exatamente o que esse grupo não quer. “Temos de nos dissociar de todo o PMDB”, concluiu.
Essas são razões válidas e, até certo ponto, perfeitamente coesas para decidir uma permanência. No entanto, para que essas razões possam se tornar as causas reais e conclusivas de uma grande decisão final, alguns eventos de poder decisórios devem ocorrer.
Sim: o PSDB tenderia a sair e desidrataria o governo. Um governo desidratado enfraqueceria as reformas e, consequentemente, sua própria existência.
Não: o PSDB tenderia a permanecer, e esse assunto seria parcialmente superado. A pressão da imprensa e da sociedade não cessaria, mas o governo teria uma chance em mãos para retormar a direção que tinha antes dos constrangedores episódios.
E se o PSDB sair, quando isso pode ocorrer?
Cronograma “entre agora e daqui a pouco”
Denúncia da PGR no STF e decisão pela abertura de inquérito na Câmara dos Deputados: hoje o governo tem, segundo seus cálculos, 255 deputados firmes. Para impedir a abertura de um inquérito, necessitaria de 177 votos. No entanto, caso uma delação de Rodrigo Rocha Loures ocorra antes dessa votação, o número de 255 poderá diminuir. Afirmar que baixaria dos 177 seria pura especulação.
Cronograma “próximas semanas”
Novos fatos: tanto a PGR quanto a imprensa afirmam que a história não acabou. Em Brasília, ouve-se de tudo: novos áudios, novos vídeos, novas delações. No entanto, isso não confirma nada até vir à tona. Muito foi especulado em Brasília desde o início da “Era das Investigações”. Novos fatos com certeza mudariam qualquer prognóstico, acelerando ou freando de vez acontecimentos e decisões levantados aqui.
Cronograma “a qualquer momento”
Tirando a possibilidade de novos fatos, tudo poderá ser definido ao longo dos meses de junho, julho e agosto. Possibilidade de impeachment? Sempre existe com qualquer um, mas a composição atual não indica isso. “Podemos sair do governo, mas não quer dizer que lutaríamos para tirar o governo. Podemos entregar cargos, mas se a possibilidade das reformas voltarem, votaríamos a favor”, é o que pensa parte majoritária do PSDB.
Como sabemos que algo inédito e surpreendente com certeza ocorrerá nas próximas semanas e meses, qualquer análise de prognóstico se baseia nas fotos do momento. Hoje, as peças indicam essas possibilidades. Amanhã, tudo pode mudar.
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