O Brasil sonha com um Macron


A eleição presidencial francesa descartou os nomes de todos os líderes de partidos tradicionais e garantiu a vitória de Emmanuel Macron. A eleição legislativa do próximo domingo deverá consolidar a sua vitória ao dar pelo menos, neste domingo um terço do eleitorado, um percentual que poderá crescer no segundo turno, previsto para 18 de junho, até lhe conferir maioria absoluta.

Trocar de presidente e renovar toda a Câmara é o sonho de consumo de muitos brasileiros, que olham para as eleições do fim do ano próximo, independente do desenlace da atual crise política.

Político de formação sólida

Muitos acreditam que Macron é um novato na política. Nem tanto. Ele foi ministro da Fazenda do governo de François Hollande, e chegou lá depois de ter feito o percurso clássico dos dirigentes franceses. Filho de médicos, estudou Filosofia em Nanterre, uma universidade de segunda ordem, onde estudou Hegel e Maquiavel, mas depois fez mestrado em políticas públicas no famoso Sciences Po, o Instituto de Ciências Políticas de Paris, e depois a Escola Nacional de Administração. Macron é um político com estudos.

No Brasil não temos no Brasil um personagem político com características similares, em condições de devolver a confiança no futuro.

Macron só em 2012 entrou no governo como secretário geral adjunto da presidência. Antes havia tentado, sem sucesso, iniciar sua carreira política no Partido Socialista e foi ganhando respeito pelas suas propostas para devolver vitalidade à economia, mas quando sentiu que seu espaço se estreitava, pediu demissão. Uma semana mais tarde foi nomeado Ministro da Fazenda.

O sucesso de Macron pode ser explicado em parte pela incapacidade das forças políticas de enfrentar os desdobramentos da crise financeira de 2008 e também das ameaças do terrorismo. Esses desafios decretaram o quase desaparecimento do Partido Socialista assim como as soluções apresentadas pela direita e pelo ultranacionalismo.

Jogo de cartas marcadas

No Brasil, o desafio parece maior: como refazer as instituições políticas, cujos dirigentes já foram para a cadeia ou estão perto disso. As regras do jogo eleitoral e do financiamento político fortalecem os grupos já existentes e dificilmente uma nova agremiação poderá rapidamente aceder ao fundo partidário ou às verbas parlamentares que são mecanismos muito fortes de manutenção do status quo.

No sistema político francês há financiamento público e privado (pessoas físicas), com limites. Deputados e presidente tem direito a reembolso (com recursos públicos) de gastos de campanha, até 47,5% do limite legal estabelecido. Além disso, a eleição de deputados é feita em dois turnos (o segundo turno será em 18 de junho) o que fomenta a formação de maiorias.

O que mais parece dificultar a mudança das regras do jogo eleitoral no Brasil é neste momento o desejo dos atuais legisladores de mante-las inalteradas. Ainda tem poder para isso, assim como para eleger, caso necessário, um novo presidente interino.

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