O MERCOSUL enfrenta uma de suas piores crises desde sua criação quando os então presidentes Raul Alfonsín e José Sarney deram um passo na direção da integração e o fim das rivalidades regionais. Não se pode ignorar a importância histórica dessa aproximação e o que ela representou em termos de estabilidade política entre os vizinhos sul-americanos.
Desde então, o bloco patina para consolidar-se como um espaço vigoroso da união sul-americana em torno de um mesmo objetivo: o desenvolvimento. Um exemplo desse diagnóstico está nas negociações com a União Europeia para a constituição de um Tratado de Livre Comércio. São 20 anos de discussões, idas e vindas e nada de concreto.
O impasse atual que divide o bloco, apesar das declarações em contrário, ameaça estancar novamente as negociações que ganharam fôlego nos últimos meses.
No entanto, a atual crise não atinge apenas o MERCOSUL. Também a União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) vive o seu momento de acefalia e relativo ostracismo. E podemos afirmar que pelas mesmas razões. A UNASUL que nasceu para pôr fim às tensões entre Colômbia e Venezuela à época de Álvaro Uribe e Hugo Chávez está agora na segunda divisão das prioridades nacionais.
O mandato do atual Secretário-Geral, Ernesto Samper, terminou no dia 20 de agosto. Nenhuma candidatura à sua sucessão foi apresentada. Nem mesmo ele que tem direito a mais um período à frente da entidade, o fez formalmente. Samper foi guindado ao posto quando Argentina e Brasil formavam uma força tríplice junto com a Venezuela.
Não há como negar que há desinteresse misturado com frustração, uma combinação que desanima qualquer país a buscar protagonismo por meio deste posto. A crise que afeta a região não é apenas econômica e/ou política, mas de identidade. A polarização deu-se de forma tão dura nos últimos anos que a construção de pontes neste momento parece impossível.
Hoje, a realidade sul-americana é completamente diferente. Os chamados “bolivarianos” já não dominam a região. Bolívia e Equador baixaram o tom da retórica de suas ameaças e apenas a Venezuela governada por um regime tão autoritário quanto corrupto, ainda resiste.
Importante não esquecer que desde abril deste ano, a Venezuela preside a UNASUL. Recebeu a presidência do mecanismo em um evento discreto e esvaziado sem a presença de um único Chefe de Estado. Em julho, deveria receber a presidência pro tempore do MERCOSUL, mas as mudanças políticas na Argentina, Brasil e Paraguai, não permitem. Em setembro, assumirá a presidência do Movimento dos Países Não Alinhados (MNA), do qual o Brasil é observador.
Também a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), sob a presidência da República Dominicana, parece esquecida. Pouco se fala da Comunidade Andina de Nações e da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA), o contraponto da esquerda às empreitadas norte-americanas na região. O petróleo, principal combustível para dar musculatura ao mecanismo criado por Chávez, caiu de preço e com isso, tornou irrelevante este esforço.
O retrato que temos é desolador. Os embates políticos paralisam os mecanismos de integração e colocam em risco uma imagem relativamente positiva da região ante a comunidade internacional. Talvez o momento possa servir para que a região reavalie a quantidade de organismos criados e pouco funcionais e decida avançar para algo mais encorpado.
Quem sabe não é momento de se avaliar a criação de uma única entidade que abarque todas as atuais e contemple o político e o econômico ao mesmo tempo?
Marcelo Rech é analista no Instituto InfoRel de Relações Internacionais e Defesa. E-mail: inforel@inforel.org.