A decisão do PT de veicular inserções na TV defendendo o ex-presidente Lula mostra o elevado grau de preocupação do partido com a imagem de seu maior líder.
Desde o início do mês, estão sendo exibidos spots com 30 segundos de duração, onde o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirma que “o país inteiro sabe o que Lula fez para melhorar a vida do povo brasileiro. Por isso mesmo, o ex-presidente tem sido alvo de ataques, provocações e perseguições pelos preconceituosos de sempre. Eles não aceitam que Lula continue morando no coração do nosso povo, principalmente daqueles que mais precisam. Apesar deles, a verdade mais uma vez vai vencer a mentira”.
O discurso de Falcão mostra qual será a estratégia do PT: recordar que durante o governo do ex-presidente a vida dos brasileiros melhorou para tentar preservar o prestígio que Lula ainda possui, sobretudo junto ao eleitorado de menor renda e escolaridade, e dizer que os ataques que o ex-presidente sofre seriam preconceito “das elites”. Como Lula tem uma forte rejeição nos grandes centros urbanos, a estratégia, mais uma vez, é apostar na divisão entre “ricos e pobres” para garantir o apoio ao ex-presidente nos chamados grotões.
Porém, uma pesquisa realizada pelo instituto Ipsos e publicada no jornal Valor Econômico na terça-feira (02) mostra que a Operação Lava Jato abalou a imagem de Lula.
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Ou seja, conforme se pode observar, a imagem do ex-presidente foi bastante danificada na questão ética. Uma informação preocupante não só para Lula, mas também para o PT, é que, na avaliação do Ipsos, o partido deixou de ser a legenda dos mais pobres para ser visto como a legenda dos corruptos (71% consideram o PT mais desonesto que outras legendas). Esse fato é muito negativo para o PT, principalmente nas eleições municipais, onde a questão ética deverá estar bastante presente como consequência da Lava-Jato.
Com sua imagem abalada, Lula passa a depender muito mais de uma recuperação da economia para ser competitivo na sucessão presidencial de 2018. Aliás, não é por acaso que o ex-presidente pressionou por mudanças no comando da economia.
A melhora dos indicadores econômicos será determinante para Lula recuperar o elevado prestígio que já teve junto ao eleitorado de baixa renda e escolaridade, mas que foi danificado por conta do aumento da inflação, desemprego e redução do poder de consumo. Vale recordar que o ex-presidente passou a ser dependente dessa fatia do eleitorado desde a crise do Mensalão (2005), quando perdeu parte importante do apoio da chamada classe média tradicional. Essa alteração do apoio de Lula e também do PT foi chamada na época de “realinhamento eleitoral”, dando início ao lulismo.
IMAGEM DO EX-PRESIDENTE PERDEU COM A CRISE
Mesmo que Lula ainda seja lembrado por uma parcela do eleitorado como o último presidente que melhorou a vida dos brasileiros e possuir prestígio junto aos grotões, a conjuntura é extremamente adversa aos interesses do ex-presidente.
Um grande problema a ser enfrentado por uma nova candidatura Lula é a expectativa de aumento do desemprego entre os mais jovens. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase um quinto da população jovem de 18 a 24 anos – 19,7% – está desempregada, representando 33,1% do total das pessoas desocupadas no país. Diante desse quadro, o ex-presidente terá bastante dificuldade para penetrar no eleitorado mais jovem, visto que a insatisfação com o governo Dilma tende a continuar alta se a conjuntura econômica adversa não for revertida.
Além do desemprego, outra dificuldade com que Lula terá que lidar é o tema corrupção, apontado como problema número um na visão dos brasileiros, segundo as últimas pesquisas, superando outros como saúde, educação, segurança, desemprego e violência. Uma explicação para isso é a possível relação que parcela importante da opinião pública entre corrupção com o desemprego, inflação, poder de compra reduzido etc.
Além de ser o responsável pela escolha da presidente Dilma Rousseff como sua sucessora, o suposto envolvimento na Lava-Jato representam dois grandes obstáculos para Lula superar. Aliás, não é por acaso que as últimas pesquisas mostram o risco do ex-presidente inclusive ficar fora do segundo turno.