Os últimos 33 anos no Brasil tiveram a marca indelével de três partidos: MDB, PSDB & PT. Neste interregno, quase tudo de bom, quase tudo de mau que ocorreu em terras brasilianas teve a participação da tríade.
Da estabilidade econômica aos programas sociais, passando por projetos que converteram em leis mudanças drásticas nos costumes. Da saúde convalescente à educação sempre reprovada, passando pela corrupção catapultada à casa dos bilhões.
Para o bem e para o mau, o Brasil que adentrou o século XXI tem as digitais daquelas três agremiações. As demais siglas foram coadjuvantes.
As eleições de 2018 dirão se o trio continuará protagonista ou não. Porém, a sujeira que esparramaram ao transformarem militantes partidários em meliantes do erário é igualmente inapagável.
Todos no mesmo barco
Graças à Lava-Jato, parte dos larápios que roubaram bilhões de dinheiro do público estão sendo conduzidos ao cárcere. Pela primeira vez na história tupiniquim, a elite branca e rica foi condenada por corrupção.
A prisão do camarada José Dirceu tem o gosto acre para uma geração que quis mudar o mundo. Ao lado de Lula e Antonio Palocci, Dirceu teve papel decisivo nos rumos do Brasil contemporâneo.
O PT, porém, não caiu de gaiato neste navio licencioso. Caiu porque roubou e deixou roubar. A Ação Penal 470 e a Lava-Jato demonstraram isto à larga.
A história das últimas três décadas, no entanto, não foi escrita sozinha pela sigla que representara a esperança de que a política podia ser exercida com retidão. MDB e PSDB também forjaram o Brasil que ora vivenciamos.
O tanto que cada uma destas siglas depenou o erário ainda está sendo contabilizado. Mas as três, já evidenciou a Lava-Jato, exerceram forte protagonismo nos malfeitos com os cofres públicos.
Até aqui, procuradores e juízes têm se mostrado ágeis para trancafiar petistas. Quando o alvo são emedebistas e tucanos, porém, o ritmo tem sido a tradicional vagareza do Ministério Público e do Judiciário.
Senão, vejamos. Paulo Preto, tido como operador tucano, e Milton Lyra, símile do MDB, foram libertados quando ofereciam risco de delatarem tucanos e emedebistas graúdos.
Os cardeais tucanos Geraldo Alckmin e Aécio Neves, entre os suspeitos da Lava-Jato, não parecem ameaçados pela sanha justiceira dos promotores. O também tucano Eduardo Azeredo, em que pese a condenação e um processo de mais de uma década, permanece livre das grades.
Ivo Cassol, este do PP, mesmo condenado, livrou-se da prisão. E, claro, nada se compara à caterva do MDB, de extensa folha corrida. Sobre ela, não paira nenhuma ameaça no horizonte próximo.
Procissão medonha
Se quer ser justa, a Justiça deveria vergastar a todos com o mesmo chicote. Do contrário, ela apenas ratifica de maneira pejorativa a máxima – cada juiz, uma sentença – no lugar da “igualdade e a justiça como valores supremos” inscrito no preâmbulo constitucional.
Que não se espere isenção de juízes. Somente o fato de terem eles a discricionariedade de decidir quem e quando julgar já lhes desnuda qualquer aura de imparcialidade.
Mas, caso estejam imbuídos de espírito republicano, é hora de mexer com outros larápios. Tirante crédulos e nefelibatas, ninguém crê que o PT roubou sozinho – como atestado pela Lava-Jato.
A sanha de procuradores e juízes no encalço do PT exibiu em praça pública um santo do pau oco. Nesta procissão medonha, de explícito despudor moral, há outros santos igualmente ocos de caráter.
A Justiça pode parar por aqui e satisfazer parte da ânsia vingadora do povaréu. Mas, se quiser ser respeitada, ela terá que seguir em frente e julgar outros meliantes do erário igualmente perniciosos aos cofres públicos.
Só assim imporá respeito a políticos de todos os matizes. E, quem sabe, poderá dissipar a imagem de que a Justiça não é cega, mas caolha.
Com um olho, lanceia desafetos. Com o outro, encobre apaniguados.
* Itamar Garcez é jornalista