A ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República provocou histeria nos intelectuais da chamada esquerda. Diante da desconcertante simplificação da realidade por parte do capitão reformado, a elite acadêmica tem reagido com espasmos carentes de razão.
As análises dos críticos anteveem tempos sombrios sob o futuro mandatário. “Bolsonaro aquece os aviões para o bombardeio das cidadelas democráticas”, escreveu um jornalista e professor da USP.
Para um sociólogo da PUC, estamos “condenados em meio às trevas” e, talvez por isto, precisamos de um “sistema de defesa contra a barbárie”. Uma brasilianista faz coro às previsões catastróficas.
“Bolsonaro anunciou gatilhos que vão fazer disparar essa taxa [de mortalidade]”, prevê. “Por trás dele [Bolsonaro]”, prossegue, há “uma estrutura de pensamento muito coerente, em que se articulam corrupção, comunismo e perversão moral [sic]”.
O “Brasil transita em direção a uma cultura da violência”, escreve outro professor da USP. Tudo isto se junta aos prognósticos daqui e d’além-mares que veem a democracia brasiliana ameaçada.
“Ele é um risco à democracia brasileira”, convergem, em uníssono. E não faltam, claro, as indefectíveis comparações com Hitler.
Estado controlador
Mídia e cientistas políticos costumam errar previsões. Talvez acertem desta vez, mas poderiam ser mais convincentes se fossem mais honestos intelectualmente.
Verdade que o futuro presidente do Brasil dá vazão ao alarmismo. Sua retórica bélica fertiliza o pensamento acadêmico e midiático amplamente hostil a tudo que não provenha dos alfarrábios da sinistra.
Em suas análises, esses prestidigitadores descrevem Bolsonaro como um tirano que implantará a autocracia no Brasil. Desprezam o fato de que o contraponto eleitoral no segundo turno não era uma opção virtuosa.
O que grassa hoje no Brasil, passados 23 anos em que o eleitor elegeu a esquerda para governá-lo, é a explosão da violência e da corrupção nunca antes vistas – contra as quais o capitão prometeu insurgir-se. Ao mesmo tempo, a tendência atávica ao autoritarismo de parte da chamada esquerda se consubstancia no inchaço da máquina estatal, aparelhada para tudo controlar.
Estado grande é Estado controlador – cerne do pensamento da sinistra, que considera todos, menos os camaradas, incapazes de se autogerirem. Justiça aqui ao PSDB, que, ao vender parte do patrimônio público, se desprendeu da esquerda conservadora.
Patrimônio que, nas mãos do PT, serviu para surrupiar bilhões do erário, como fartamente provou o Ministério Público e a Polícia Federal, chancelados por instâncias do Judiciário. Os danos dos governos petistas ao País, portanto, não são uma possibilidade, mas fato consumado.
Meliantes do erário
Presidente empossado, Bolsonaro poderá incentivar a violência? Fomentar a corrupção? Submeter o Estado ao autoritarismo? Em teoria, sim.
A diferença, evidente diante do apego mínimo à lógica, é que nem PT nem PSDB debelaram o crime organizado. Inequívoco, como demonstrado à larga pelo Mensalão e pela Lava-Jato, que os governos petistas abriram as porteiras a meliantes do erário.
Mais grave, porém, foi o namoro desavergonhado com o autoritarismo (vide plano de governo do PT para as eleições de 2018). Durante os 13 anos de poder, o petismo apoiou a ditadura cubana, perversos tiranos africanos, regimes autoritários latinos (Venezuela, Nicarágua) e autocracias no Oriente Médio.
Ao mesmo tempo em que repudiava democracias como a de Israel.
A histeria midiática e acadêmica não surpreende. Segundo Adriano Gianturco, professor de ciência política do Ibmec (MG), em entrevista ao Valor, “o pensamento marxista [antes da internet] já tinha dominado o ambiente de escolas, universidades, sindicatos e até mesmo alas da Igreja Católica”.
Pablo Ortellado, professor da USP, no mesmo periódico, “lembra que os conservadores já não são dominantes nos principais meios que formam valores – a mídia, as artes, as escolas e universidades”. Eis onde fenece a razão: jornalistas, artistas e intelectuais revezam-se entre a plateia e o púlpito aplaudindo-se mutuamente.
Resultado: a interdição do livre pensar.
Se Bolsonaro acredita que o apoio de 57,7 milhões de eleitores é salvo-conduto à violência, à corrupção e à ditadura, é preciso esperar. Mas não há dúvida de que o produto palpável da chamada esquerda foi violência, corrupção e o perigoso flerte com o autoritarismo.
* Itamar Garcez é jornalista