Na última terça-feira, 8, o deputado Orlando Silva, do aliado inconteste PCdoB, alinhavou crítica à articulação política do governo. “O PT sozinho não dá”, resmungou. A carraspana, despercebida aparentemente por próceres palacianos, pode explicar muito da insustentável base de apoio governista.
Consultadas, as agendas do Palácio do Planalto não refutarão a premissa. Se há crise política as portas do gabinete presidencial se abrirão somente àqueles que enverguem a estrela de cinco pontas. Nos últimos encontros, a presidente Dilma Rousseff cercou-se quase sempre dos mesmos escudeiros: Jaques Wagner, Ricardo Berzoini, José Eduardo Cardozo e Edinho Silva. Todos ministros petistas.
Esse viés dilmista, o de estreitar enormemente suas consultas, foi escancarado pela carta-queixa de Michel Temer (PMDB), na última segunda-feira, 7, onde o vice-presidente autodefiniu-se como “decorativo”.
Orlando Silva sugere criar um “comando de crise amplo no Planalto”. Porém, ex-guerrilheira, Dilma parece ainda temer os sortilégios que a clandestinidade impõe em tempos de luta armada, quando o pavor real do calabouço recomendava a suspeição mesmo do companheiro mais próximo.
Ocorre que entre os generais-presidentes e a nossa democracia multipartidária interpuseram-se inúmeras eleições. Hoje, não se governa sem o apoio de múltiplas legendas. Lição óbvia, claro.
Assim, prescindir de partidos como o PMDB, cuja vocação para aninhar-se em (quaisquer) governos constitui sua principal aptidão, não parece recomendável. Tanto que os antecessores da atual presidente, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, não ousaram desdenhar desse “preceito” da política nacional.
A imagem da mandatária cercada pelo indefectível grupo de morubixabas petistas espelha como poucas a crise de representatividade que dissolve a autoridade presidencial.