O governo chega ao seu pior momento com a decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de aceitar o pedido de impeachment de Dilma Rousseff. Os dois políticos mais impopulares do Brasil se envolveram numa luta de extermínio que arrasta aliados e agrega mais instabilidade aos mercados. No momento, a presidente leva vantagem, ancorada em duas centenas de votos, mas há o risco de deterioração desse quadro a medida que se aproxima o início do ano. Dilma tem pressa para que o assunto seja votado logo.
Dilma Rousseff
Depois de comemorar alguns avanços na tramitação de medidas de ajuste engavetadas no Congresso, a presidente Dilma Rousseff sofreu um duro revés com o acolhimento do seu impeachment pelo presidente da Câmara, seu arquirrival Eduardo Cunha. O assunto passou a dominar o cenário político e a atravancar o mundo real da economia, onde o governo colheu um indicador catastrófico – queda do 1,7% do PIB no terceiro trimestre. A reação da presidente foi polarizar com Cunha dizendo que não roubou nem tem conta na Suiça. O articulador do governo, Jaques Wagner, avisou que ela tem pressa para resolver o problema, sugerindo a convocação extraordinária do Congresso. O foco de Dilma é não perder o apoio do PMDB, que pode debandar do governo, fiel da balança na batalha política que começará a ser travada esta semana.
Eduardo Cunha
Cunha acredita na ajuda da oposição para salvar seu mandato em retribuição ao acolhimento do processo contra Dilma
O presidente da Câmara dos Deputados atrelou sua sobrevivência política ao destino da presidente Dilma. Ao saber que não teria os votos dos deputados petistas no Conselho de Ética, deflagrou o processo de impeachment e partiu para a ofensiva. Não bastasse o revide ao comportamento do PT, não deixou sem resposta os ataques da presidente Dilma Rousseff em cadeia nacional, insinuando que ele é corrupto. Reafirmou que a governante mentiu ao país ao negar a tentativa de barganha om ele visando facilitar sua vida na Câmara. Cunha acredita que pode se salvar do processo de cassação com o apoio da oposição. A abertura do processo é tida como algo inevitável, porém, nos bastidores, comenta-se que com a abertura do impeachment firmou-se um acordo para que a sanção do processo seja bem mais branda que a cassação e Cunha sobreviva.
Michel Temer
O vice-presidente tem papel-chave no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Não foi bem tratado pelo Planalto nos últimos anos, mas agora o PT espera contar com sua ajuda. Depois que Eduardo Cunha acatou o pedido de impeachment, Temer desmentiu dois ministros. Jaques Wagner disse que o vice não via lastro no processo. Edinho Silva afirmou que Temer daria assessoria jurídica a Dilma. Eliseu Padilha, muito próximo ao vice, deixou a Secretaria de Aviação Civil. O gesto foi visto como distanciamento de Michel Temer do governo e gerou especulações sobre risco de debandada do PMDB. Temer foi fundamental durante a aprovação do ajuste fiscal no primeiro semestre. Saiu da coordenação política para cuidar dos “macrotemas”.
Eliseu Padilha
Padilha deixa o Ministério da Aviação e torna-se secretário-geral do PMDB às vésperas da instalação do impeachment
Eliseu Padilha comunica nesta segunda-feira sua saída da Secretaria de Aviação Civil e será o futuro secretário-geral do PMDB, espécie de capitão do time, como dizia o ex-presidente Lula nos bons tempos em que José Dirceu mandava e o PT era uma espécie de Barcelona. Ele chega à liderança do partido como braço direito do vice-presidente Michel Temer, no momento em que o PMDB tornou-se o fiel da balança do impeachment. A metade da legenda que ainda não se bandeou para o processo contra Dilma é a mesma que vem sendo maltratada pelo Palácio do Planalto desde o mandato anterior. Cumpre papel protocolar na cadeira de vice-presidente, ocupada por Temer como representante da coalização reeleita para o terceiro mandato consecutivo. Padilha é uma das vítimas dessa delicada relação.
Jaques Wagner
Nos últimos dias, o chefe da Casa Civil estava no meio do furacão da tumultuada relação entre o deputado Eduardo Cunha e o governo. O tema recorrente era o impeachment, que Cunha esgrimia com ambiguidade como sua principal arma ao ser disputado por governo e oposição. Wagner demonstrou habilidade no diálogo com a base aliada e os adversários na construção do entendimento para votar matérias sobre o ajuste fiscal. Ao pagar para ver no Jogo do Impeachment, desentendeu-se com o presidente da Câmara, que o acusou de usar a barganha para escapar do processo. Wagner também tornou-se alvo do vice Michel Temer, na boca de quem teria posto frase não pronunciada, e do ministro Padilha, que levou um chá de cadeira, apontado como gota d’água de seu pedido de demissão.