A aprovação em primeiro turno, e por ampla maioria, da PEC dos Gastos foi o grande marco de afirmação de Michel Temer como presidente desde que passou a ocupar o Palácio do Planalto. Tendo elegido o ajuste fiscal como o objetivo principal de sua gestão, ele não poderia fracassar já no primeiro teste. Se não obtivesse êxito no desafio inicial, fatalmente os posteriores estariam perdidos. Não à toa a articulação governista corrigiu a estratégia em tempo hábil.
Pressionado a dar sinais mais evidentes de seu compromisso com o ajuste das contas, o Planalto sinalizou que enviaria logo as reformas ao Congresso. Chegou a afirmar que mandaria a proposta de Reforma da Previdência antes do término das eleições municipais, o que desagradou a muitos parlamentares da base aliada.
O governo optou então por um recuo providencial. Se seguisse a rota inicial, colocaria em discussão ao mesmo tempo dois temas polêmicos na agenda da Câmara, criando um cenário conturbado e arriscado.
Ao decidir enviar a Reforma da Previdência em novembro, o governo desanuviou o ambiente e poderá trabalhar com calma a conclusão da análise do teto de gastos na Câmara. A votação da matéria em segundo turno está marcada para 24 de outubro.
Com a proposta já no Senado, os deputados ficarão mais confortáveis para tratar de outro assunto de grande complexidade. Adicionalmente, evitam-se atritos com candidatos aliados que ainda participam das disputas municipais.
Cabe ressaltar que o governo conteve um movimento de rebelião na base aliada. Deputados insatisfeitos com o tratamento recebido pelo Planalto ameaçaram fazer retaliação. Às vésperas da votação, a articulação do governo entrou em campo e conseguiu reverter o quadro. E a vitória foi selada com o jantar promovido por Temer para os deputados da base.
A partir de agora, dado o primeiro passo com a PEC dos Gastos, o governo ganha tranquilidade para avançar em sua agenda de reformas sem atropelos, tratando dos assuntos com maior segurança.