Como o senhor avalia a relação do governo com a Câmara dos Deputados? Acho que é de domínio público que a relação enfrenta enormes dificuldades e que deixa muito a desejar. Se você tirar o partido do presidente, o PSL, que está dividido, nenhum dos demais se nomeia base do governo. Todos se ressentem com a falta de uma melhor interlocução. O presidente disse que já tinha feito a parte dele quando mandou o projeto da Reforma da Previdência e que agora cabia a nós fazer a nossa parte. Claro que vamos cumprir o nosso papel, mas é bom dizer que em uma democracia, em qualquer país do mundo, a tarefa do governo não se encerra quando ele envia um projeto. Muito pelo contrário, ele envia um projeto e vem ao Congresso defender, mostrar a oportunidade e a importância, construir a maioria dos representantes do povo que pode viabilizar a aprovação. Para que isso seja feito, precisa ter diálogo, proximidade e confiança. É isso que não percebo hoje, e é isso que faz com que essa aproximação deixe muito a desejar.
O PSD tomou a decisão de não indicar vice-líderes para o governo. Essa posição de não integrar uma futura base de apoio ao governo é definitiva? Essa é a nossa decisão hoje. O PSD é um partido integrado por parlamentares maduros, a maioria com experiência. O PSD tem governadores, tem prefeitos e tem responsabilidade. Está na Câmara e no Senado para defender o país. Nós queremos ajudar o presidente Bolsonaro. O povo brasileiro fez essa opção. Agora, nós não estávamos na base formal do presidente no processo eleitoral, nós não integramos o governo Bolsonaro, então não faz sentido formalizar um vínculo que não existe. Repito que não é necessário que nós tenhamos um companheiro na Câmara ou no Senado exercendo uma função de vice-líder para que ajudemos o Brasil. Nós temos um claro compromisso com a governança, um claro compromisso com o povo brasileiro. Agora, não podemos ser vice-líderes de um governo do qual não fazemos parte e para o qual não contribuímos no processo eleitoral.
Diante desse quadro de relacionamento do governo com a Casa, qual a sua avaliação sobre a perspectiva de avanço da Reforma da Previdência? Primeiro, quero reafirmar aquilo que eu, como líder do PSD, e vários outros líderes, fizemos quando assumimos publicamente a posição de não votar favoravelmente ao BPC [Benefício de Prestação Continuada] e à aposentadoria rural. Quando fizemos isso, marcamos uma posição política, mas, ao mesmo tempo, reafirmamos nosso compromisso com a Reforma da Previdência. Consideramos que essa é a reforma das reformas, a que permite o equilíbrio fiscal do Estado. O desequilíbrio hoje é evidente. Não tem caminho de volta que não seja por reformas que precisam partir da mais importante, a da Previdência. Nós temos uma posição de compreensão e de compromisso com a matéria, independentemente de estarmos ou não na base do presidente Bolsonaro. Não dá para falar em reequilibrar contas, voltar a investir, gerar empregos, se não for inaugurando um conjunto de medidas pela Reforma da Previdência.