Datafolha: após 100 dias, governo Bolsonaro divide opinião pública


Pesquisa do instituto Datafolha divulgada neste domingo (7) sobre os 100 primeiros dias da administração Jair Bolsonaro (PSL) mostra um país dividido. Um terço da população a avalia positivamente; um terço a rejeita; e um terço a considera “regular”.

Avaliação dos presidentes após 100 dias de governo*

Governos Ótimo / Bom (%) Regular (%) Ruim / Péssimo (%)
Collor (1990) 36 43 19
FHC I (1995) 39 40 16
FHC II (1999) 21 39 36
LULA I (2003) 43 40 10
LULA II (2007) 48 37 14
DILMA I (2011) 47 34 7
DILMA II (2015) 13 27 60
BOLSONARO (2019) 32 33 30

*Fonte: Datafolha (02 a 03/04)

Na comparação com os presidentes eleitos após a redemocratização do país, Bolsonaro apresenta, ao final de três meses de governo, popularidade mais alta apenas que a registrada pelos ex-presidentes FHC (1999) e Dilma Rousseff (2015) em início de segundo mandato no mesmo período. Fato similar ocorre com a rejeição de Bolsonaro: é inferior somente à registrada pelos governos FHC II e Dilma II.

Considerando apenas os primeiros mandatos dos presidentes eleitos a partir de 1989, a popularidade de Bolsonaro é a mais baixa. E sua rejeição é a mais alta, superando inclusive a de Collor após os 100 primeiros dias de governo.

Embora a grande imprensa enfatize as polêmicas em que Bolsonaro esteve envolvido para explicar esse resultado, o mais plausível é que tanto o ambiente econômico, sem especial o elevado nível de desemprego (mais de 13 milhões de pessoas), quanto o impopular debate em torno da Reforma da Previdência sejam o que mais afeta negativamente a imagem do governo.

Não por acaso o Datafolha aponta que a avaliação positiva mais baixa da gestão Bolsonaro se concentra na parcela da população com renda mensal de até dois salários mínimos (26%) e localizada no Nordeste (39%), segmentos fortemente sensíveis às oscilações da economia.

Outro destaque é que apenas 54% dos que votaram em Bolsonaro nas eleições de 2018 classificaram seu governo como “ótimo”/“bom”. Ou seja, 42% de seus eleitores já veem a atuação do governo como “regular” (33%) ou “negativa” (9%). Esses números sugerem que a lua de mel com a opinião pública pode estar se esgotando.

Outra informação revelada pela pesquisa é que os eleitores do presidente não querem que ele negocie com o Congresso Nacional, preferindo que ele fale diretamente com a população pela TV e pelas redes sociais.

Tal desejo representa um desafio para Bolsonaro, pois a aprovação da Previdência passa, necessariamente, por um diálogo com o Congresso. Sem isso o Executivo terá dificuldades na articulação política. Ao mesmo tempo em que precisa dialogar com o sistema político, Bolsonaro não pode desagradar a sua base social.

Essa contradição explica alguns movimentos do presidente, como o encontro, na semana passada, com os presidentes nacionais do Centrão sem abrir mão, contudo, da intensa utilização do Twitter para se comunicar. Calibrar essa comunicação direta via redes sociais é outro desafio, pois, embora Bolsonaro mdependa da fidelidade desse público, precisa tomar cuidado para não se isolar nesse reduto bolsonarista.

Nessa complexa equação, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, terá papel fundamental. Segundo o Datafolha, Moro é o ministro mais popular do governo (59%), seguido por Paulo Guedes (30%), Damares Alves (25%) e Augusto Heleno (21%). Além da alta popularidade, Moro é o responsável pelo pacote anticrime, que oferece uma agenda para uma das principais demandas do eleitorado: maior eficiência na segurança pública.

Os números sobre a popularidade dos ministros indicam ainda o peso da pauta conservadora de costumes para uma expressiva parcela da população, pois, mesmo polêmica, Damares Alves é a terceira ministra mais popular do governo.

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