Na sexta-feira, 16, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou em um discurso com forte cunho eleitoral que a sua administração simplesmente não reconheceria nenhum dos acordos firmados pelo antecessor, Barack Obama, com o governo de Cuba.
Pressionado por denúncias que podem levá-lo ao impeachment, Trump buscou na Flórida, reduto anticastrista, o apoio político necessário para jogar uma cortina de fumaça sobre as acusações que lhe pesam. Desta forma, os diálogos cuidadosamente conduzidos por Washington e Havana podem parar na lata do lixo.
No entanto, a decisão do presidente norte-americano, costurada e alinhada com aqueles que há décadas buscam derrubar o regime dos Castro, fortalece Cuba e o papel que atores extrarregionais desempenharão na América Latina. Ao congelar as conversar com Havana, Donald Trump contraria também os interesses de vários governadores norte-americanos e de grandes empresas que estão de olho nos investimentos que poderiam fazer naquele país.
Ganha Cuba, pois a ofensiva dos Estados Unidos legitima o governo e permite que o regime siga debitando todas as desgraças na Ilha, às políticas norte-americanas. Sempre acreditei que a derrubada do embargo econômico desnudaria por completo o que é o governo cubano, corrupto e ineficiente como são todos os governos, de esquerda e direita, não importa.
Além disso, Havana sempre vendeu aos cubanos que não se pode confiar nos Estados Unidos. Esse discurso ganha fôlego renovado. Bem utilizado, deixará o regime com crédito junto ao público interno. Fortalece também a estratégia cubana de não se curvar à grande potência. Além disso, Havana sabe que não faltam países e blocos interessados em investir em Cuba.
Neste sentido, atores extrarregionais como China, Rússia e a União Europeia, poderão explorar melhor seus interesses naquele país e, a partir dele, em toda a América Latina. Ao dar as costas para Cuba, Trump o faz também com a região, jogando mais incertezas em um cenário já conturbado. Quem puder abraçar os três atores nominados, terá mais chances de sair do limbo.
Na prática, Trump joga contra o patrimônio ao tentar endurecer as relações com Cuba como se ainda estivéssemos na Guerra Fria. O bloqueio econômico implementado em 1962 nunca produziu os resultados que Washington imaginava e desde os anos 80 vem sendo explicitamente ignorado.
E a exemplo de outras iniciativas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, será igualmente ignorada internamente. No Congresso norte-americano ainda é forte o lobby anticastrista, mas muito mais equilibrado em relação àqueles que desejam uma reaproximação e o fim das hostilidades. O setor privado é outro que tem força e que não se deixará amedrontar facilmente.
O que Obama buscou foi uma correção de rumos e o que Cuba ofereceu foi a oportunidade do diálogo sem pré-condições, o que já é bastante para um país tão pequeno distante apenas 166 km da maior potência bélica e econômica do planeta.
O descongelamento não pôs fim às desconfianças. Em minhas análises anteriores, chamei a atenção para esse detalhe. Era preciso dar o primeiro passo e não ter pressa. Avançou-se muito, mas a cautela é pertinente para ambos os lados.
O que parece um desvio é a decisão de jogar tudo fora. Trump também contribui para tornar ainda mais instável o ambiente internacional em relação aos Estados Unidos. Seus anúncios carregados de apelo midiático, também são contra-producentes.
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