As medidas econômicas do governo interino de Michel Temer parecem um tanto contraditórias. De um lado, estabelecer teto para os gastos públicos, uma saída essencial para livrar o Brasil do déficit. De outro, aumento de gastos, reajustes de salários ao Judiciário, complacência com as dívidas dos Estados. A dubiedade das decisões ainda faz com que a população veja o governo provisório sem muita fé, e questione os efeitos positivos das mudanças.
Mas existem pontos que precisam ser observados, e o primeiro deles é a instabilidade do governo de Michel Temer, que prossegue até a decisão final sobre o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. A interinidade do governo de Michel Temer não o coloca numa posição confortável, e se num governo estável, a negociação política é importante, para Temer ela é crucial. É preciso lidar com todos os atores do jogo político, e fazer acordos que favoreçam a aprovação de medidas importantes no Congresso. Nesse ponto, Temer tem se mostrado um articulador habilidoso, tentando conservar suas bases para a votação de matérias importantes.
Outra questão que precisa ser observada, é a de que muitos dos aumentos e gastos que estão sendo feitos neste momento, são heranças do governo Dilma. São promessas, pendências, demandas e uma série de problemas a gerenciar, que precisam ser encaixadas na pauta de governo de Michel Temer, e representam gastos. Inclusive, no caso do reajuste salarial do Judiciário, a demanda era a de um aumento maior, que foi reduzido para aprovação.
Ainda assim, mesmo com toda a aparente contraditoriedade, a economia brasileira vem reagindo, e este é um ponto importante a se considerar. Mesmo com os aumentos previstos nas contas públicas, não houve impacto negativo na economia. O dólar operou em baixa na semana, mesmo com o clima de instabilidade política. Os prejuízos causados à economia brasileira nos últimos não serão de rápida reversão. Caso Michel Temer permaneça presidente, precisará rever programas e redefinir prioridades para impulsionar a recuperação econômica, segundo entrevista do ex-presidente do Banco Central, Pedro Malan à jornalista Miriam Leitão.
Contudo, é preciso cautela. O governo precisa aprovar no Congresso matérias importantes, como o teto dos gastos públicos, para que consiga se sustentar politicamente, e também para manter positivo o clima de remediamento da economia. Não avançar nas medidas que representam contenção de gastos do governo, significaria o fracasso da gestão de Temer, e mais problemas econômicos para o Brasil.