As manifestações serão grandes e a culpa é do governo


Apesar das manifestações virem, ao longo do tempo, perdendo força, a de hoje deve ser muito numerosa. Moro contribuiu ao convocar Lula para depor? Sim. Mas não adianta jogar a responsabilidade nele. Outros ingredientes foram muito mais importantes

Estamos há muitos meses sem governo. Dilma não parece ter mais nenhum controle do que acontece ao seu redor. O legislativo é um inimigo declarado do executivo, enquanto o judiciário tenta fazer as vezes de irmão mais velho – “Dedo no olho não pode”.

Essa briga é resultante de manobras mal planejadas da presidente. Qualquer chefe de executivo tem a obrigação de saber que deve fazer do presidente da Câmara seu principal aliado. Dilma não se esforçou como deveria e ganhou Cunha no seu calcanhar.

Se aliar a Renan e confiar que ele seria sua salvação, também é de uma ingenuidade ou falta de visão gigantesca.

Também não podemos deixar de lembrar que não existe uma figura como José Dirceu em sua defesa. Um “capitão do mato” capaz de arregimentar aliados e controlar possíveis dissidências, custe o que custar.

Fora isso, a corrupção envolvendo o governo, empresários e estatais, exibida nos meios de comunicação poderia ser muito bem rotulada como o maior escândalo de nossa história. Nunca antes nesse país vimos as entranhas do poder tão expostas.

Lula ainda é um símbolo, mas dia após dia ele perde prestígio popular. Ontem um taxista ouviu parte da minha conversa e falou “Lula roubou, mas os outros também roubaram”. Ouvindo a defesa, repliquei a intervenção com uma pergunta: “Você acha que ele deveria ser preso?”. A resposta não poderia ser mais taxativa “É claro que sim, fez errado tem que pagar”.

O povo sempre teve brilho nos olhos ao ver Lula, mas é questão de tempo. Delcídio deve contribuir muito. Quando o senador saiu do PSDB e foi para o PT, houve festa. Se fosse planejado não daria tão certo. A vida é mesmo irônica.

Mesmo assim, com todo o enredo dessa opera buffa, não fosse o desarranjo econômico em que vivemos nada estaria acontecendo. Tivesse o governo Dilma a capacidade de governar e fazer o país crescer, não haveria manifestação alguma.

Imagine o país com crescimento do PIB em 5% ao ano, empregos sendo gerados, dólar baixo, juros baixos, se Aécio Neves ou qualquer outra figura pública teria condições para levar mais do que meia dúzia de insatisfeitos às ruas…

A questão é que se sangrou tanto o sistema, em nome da perpetuação no poder, que não há mais manobra fácil para a crise. Ao contrário, cegamente o governo crê que aumentar impostos é uma boa saída.

O governo age como um funcionário ruim. Não faz o serviço como gostaríamos. Chega tarde, sai cedo. Por vezes dorme no trabalho. Briga com os colegas. Leva pertences da empresa para casa e “se esquece” de devolver. E, por fim, quando diante de um problema pessoal, vem nos pedir aumento.

Quem acha que tudo isso é culpa das investigações é tão cego quanto quem acha que a oposição seria capaz de derrubar um governo que estivesse sendo bom.

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