Entre as muitas consequências da greve dos caminhoneiros, provavelmente a mais previsível é o efeito negativo da intervenção na Petrobras nos moldes apregoados pelo Governo Federal. Sob os auspícios do Parlamento, o modelo venezuelano de intervenção estatal aparece na forma de uma antiga peça publicitária dos anos 1980, a da vodca Orloff: “Eu sou você amanhã”.
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A PDVSA, sustentáculo econômico do chavismo, simulacro de democracia, afunda. Sentados sobre 297 bilhões de barris de petróleo, a maior reserva do mundo, a estatal que sustenta Nicolás Maduro e seus milicianos não figura sequer entre as 10 maiores produtoras mundiais – o Brasil está à frente dos hermanos.
De 2016 até hoje, a PDVSA, reduziu sua produção diária de 2,5 milhões de barris para 1,5 milhão/dia. Falta dinheiro para investimentos.
O governo do empobrecido vizinho brasileiro interfere diretamente na sua petrolífera. Não podia dar certo. Não dá certo.
Impulso populista
Eis onde a esquerda conservadora e a direita nacionalista brasileiras se encontram. Ambas acreditam no exclusivo poder do Estado para promover o desenvolvimento.
Dentre seus militantes há aqueles que realmente (ou ingenuamente) acham que o Estado detém o monopólio para promover o bem. Empresários, para aquelas greis, são eternamente malvados e exploradores da classe operária. Operários, por seu turno, são sempre bonzinhos e plenos de boas intenções.
Há, também, os que sabem que o Estado gigamenso é terreno espaçoso para a rapinagem. Quanto mais Estado, mais poder têm os governantes e a burocracia estatal.
Logo, há mais espaço para a roubalheira e a dominação. Sobejam exemplos, como os do leste europeu do século XX.
O governo Michel Temer, que começou com roupagem liberal, por pressão externa e debilidade interna foi cedendo espaço ao intervencionismo. Nesta toada, sobrará, ao final de seu mandato-tampão, ter retirado o Brasil da recessão provocada pela antecessora.
Importante, mas pouco diante do anunciado. Afinal, a promessa era entregar um erário rumo ao saneamento fiscal. Noves fora a “pacificação nacional”.
A queda de Pedro Parente, presidente da Petrobras, entra na conta da opção pelo que deu errado. Mundo desenvolvido afora, companhias que deram certo são majoritariamente aquelas que têm liberdade de mercado e concorrentes.
Estamos longe, ainda, do padrão fracassado da Venezuela. Mas se a União, controladora da estatal, ceder em demasia aos impulsos populistas pré-eleitorais corre para o abraço que levou a PDVSA ao buraco.
Opção pelo fracasso
Enquanto isto, Parente entra para o improvável rol dos executivos cujas demissões sobrevêm ao sucesso. Entre outros indicadores, ele reduziu a dívida bruta da petrolífera de R$ 450 para R$ 340 bilhões e saiu do lucro negativo de R$ 1,2 bilhão para o positivo de R$ 6,9 bilhões.
A correção automática dos preços foi mudança drástica demais para o consumidor acostumado ao congelamento? Provavelmente.
Mas o fato não representava motivo para a fritura do CEO. Inda mais na esteira da greve predatória dos caminhoneiros.
Já a planejada venda de refinarias, além de reduzir a dívida colossal, poderia induzir à desconcentração do mercado e à redução dos preços dos combustíveis. Afinal, concorrência e lucro estimulam o desenvolvimento e o progresso.
Princípio que políticos reacionários, sobretudo na esquerda, persistem em condenar. Entre o deus mercado e o deus estatal, ficam com o segundo.
Valem-se do argumento de que o povo se impõe ao Estado forte. Tão falso como o respeito aos direitos humanos em Cuba ou a liberdade de expressão na China.
Teimam em ignorar que o desenvolvimento e o bem-estar proliferam onde há liberdade, democracia e livre empreendedorismo. Preferem a opção ideológica por modelos fracassados e liberticidas.
Ao vacilar no apoio a Parente, Temer cedeu ao nacionalismo cucaracha. Restam as eleições de outubro, quando os cidadãos escolherão se querem o desenvolvimento econômico e social ou o eterno voo de galinha brasiliano.