A nova (des) ordem mundial


Nos dias 23 e 24, participarei em Londres da Chatham House Conference, evento organizado pelo The Royal Institute of International Affairs, do Reino Unido. Na agenda, a tentativa de compreender os conflitos atuais e construir cenários para o futuro imediato e uma nova ordem mundial. Neste contexto, a situação europeia, a nova administração norte-americana, o Oriente Médio e o Norte da África são prioridades inegáveis.

O fortalecimento do terrorismo e as ameaças ao multilateralismo serão discutidos por especialistas dos cinco continentes, mas é igualmente inegável que a realidade latino-americana estará circunscrita à crise política na Venezuela. O Brasil, neste cenário, aparece como um ator marginal, que perdeu protagonismo, mas que ainda desperta interesse.

Vamos tentar encaixar a agenda comum latino-americana representada por fortes ameaças à estabilidade regional, à prioridade mundial por mais integração e segurança. Não podemos esquecer que o Brasil, um país atlântico, está na alça de mira da criminalidade organizada, podendo converter-se em um “novo México”. Além disso, a transnacionalidade do crime é um fato que precisa de cooperação e criatividade para ser combatida.

Os organizadores do encontro decidiram convidar analistas sêniores com alguma capacidade de influenciar decisões, justamente porque o mundo atravessa um momento especialmente delicado. Por exemplo, a administração Trump, na visão do The Royal Institute of International Affairs deixou um vácuo na liderança global; os desenvolvimentos no Oriente Médio estão intensificando a luta entre os estados do Golfo e o Irã; a Rússia persiste em reafirmar seu poder, enquanto a Europa permanece preocupada com a recuperação interna; a ameaça norte-coreana tornou-se mais espinhosa; e a China procura equilibrar suas crescentes ambições internacionais e dilemas internos.

São processos que impactam diretamente na (des) ordem mundial e que ocorrem em um contexto de avanços tecnológicos e fluxos de informação em constante expansão, trazendo mudanças e incertezas sem precedentes sobre como trabalhamos, competimos e nos relacionamos.

Essa gama de incertezas e o fluxo cada vez mais veloz da informação também beneficiam aqueles que atuam à margem da legalidade como as organizações terroristas e do crime organizado. Não é novidade que os Estados estão pelo menos dezenas de passos atrás dessas organizações que cooperam de forma fluida há décadas e que agora tiram proveito das mídias sociais para propagar, recrutar e disseminar.

Para a Chatham House, “este é um momento vital para convocar os principais pensadores e atores de todo o mundo para comparar as melhores práticas e traçar formas de trabalhar em conjunto para construir um mundo sustentável, próspero e justo”. Não é tarefa fácil, muito menos simples. A máxima de que “nações não têm amigos, têm interesses” também ganha fôlego neste cenário.

Um dos propósitos da conferência é estimular a discussão entre os think tanks. No Brasil, estes centros de pensamento e análise são elitistas e voltados para dentro de si. Este é um diagnóstico baseado em fatos. O InfoRel, por sua vez, pretende contribuir com o debate oferecendo uma visão latino-americana sobre os desafios regionais e globais, afinal de contas, “longe é um lugar que não existe” e não há país ou região imune às ameaças e crises internacionais.

Postagens relacionadas

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Possível liberação do aborto de fetos com microcefalia pelo STF é criticada na CAS

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Saiba mais