A Lava-Jato ameaçada.


Tenho defendido a propositura, na contramão da opinião dominante, de que a Lava-Jato se extinguirá em breve. Breve, aqui, quero dizer nos próximos três anos, ou menos. E com ela irão também as condições favoráveis ao combate à corrupção.

Não se trata propriamente do fim das investigações, que é impossível, mas de sua eficiência. O Brasil voltará às velhas práticas de políticos e executivos da administração direta ou indireta que se apropriam do dinheiro público sem serem punidos.

O combate à corrupção no Brasil ganhou espaço, visibilidade e eficiência desde 2013 por três razões fundamentais. O bom funcionamento de instituições como a Polícia Federal, o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal.

Personalidades certas em lugares certos fazendo as investigações e os processos caminharem: Teori/Fachin, Janot, Daiello e Moro. E, finalmente, um corpo jurídico que permite: prisões preventivas, delações premiadas e prisão após condenação na segunda instância. Três instrumentos indispensáveis à eficiência das investigações e responsáveis pelos resultados que obtivemos até agora com executivos e políticos na cadeia.

O sucesso da Lava-Jato deveu-se também ao apoio da mídia e da opinião pública. As condições favoráveis, porém, estão começando a ser inverter na medida em que se amplia seu leque de ação.

Inicialmente, a Lava-Jato tinha como inimigo central os petistas que se sentiam injustiçados com as investigações, denúncias e condenações que, segundo eles, era uma artimanha dos reacionários e aliados do imperialismo para impedir o Brasil de se tornar um País justo e menos desigual.

Eram os inimigos do povo que estavam por trás da Lava-Jato. Quando o PT deixou de ser o personagem central das investigações e este lugar passou a ser ocupado pelo PMDB, seus inimigos cresceram. E se articulam desde então, sob a direção unida de Lula e Temer.

Como no caso da Operação Mãos Limpas na Itália, os políticos contra o combate à corrupção, em geral sob investigação e denunciados, se articulam para mudar o corpo jurídico, e dessa forma restringir as ações do MP e da PF.

Foi assim que o parlamento italiano inviabilizou aquela Operação e deixou a Itália como um dos países mais corruptos do mundo desenvolvido, senão o mais.

Os sinais na mesma direção são cada vez mais notórios e crescentes no caso do Brasil. A lei contra o fórum privilegiado, aquela que permite a polícia de abrir investigações, a qualquer hora, contra qualquer cidadão, mas não contra os parlamentares e autoridades estatais, está engavetada.

As dez leis de combate à corrupção apresentadas pelo MP, com assinatura de mais de dois milhões de brasileiros, estão ameaçadas de serem completamente desvirtuadas. Uma lei contra o abuso dos juízes saiu da gaveta e caminha para sua aprovação.

Simultaneamente, no STF, um ministro articula para que a prisão após a condenação em segunda instância seja extinta.  Assim, os políticos e autoridades públicas teriam ainda uma ou duas instâncias a recorrer.

Um desses políticos levou mais de 20 anos para ser preso, depois de 34 recursos, Luís Estevão. O STF tem centenas de processos e nenhuma estrutura investigativa realmente eficiente.

Agora chegou uma nova oportunidade para o Parlamento derrubar a  lei da delação premiada votada e promulgada em 2013 graças as manifestações de rua que percorreram o País naquele ano.

Esta oportunidade chama-se CPMI, ou seja, Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (que reúne deputados e senadores) contra a JBS. O motivo é o escândalo do comportamento dos dirigentes da JBS, que delataram o Presidente da República em troca de suspensão de processo e liberação da cadeia, e depois foram pegos em conversa na qual a delação teria sido planejada com pessoas do Gabinete do Procurador Geral da República.

A CMPI tem um presidente e um relator absolutamente contrários a Lava-Jato. O Presidente do PSDB/TO, antes de nomear o relator, esteve no Palácio do Planalto, onde escutou que o governo não abriria mão de ter o relator.

O nomeado para tal função foi o deputado Carlos Marun, do PMDB/MS, o mais fiel amigo de Cunha, que o visitou na cadeia com dinheiro público e é réu por improbidade administrativa em seu estado onde foi secretário municipal e estadual.

Quatro parlamentares já se retiraram da Comissão sob argumento de se tratar de uma farsa. E já se fala entre os membros da Comissão que a delação deve ser revista, de tal forma que ela se torne quase impossível, pois os colaboradores com a justiça teriam um tempo limitado para juntar as provas e a polícia um tempo limitado para obter a delação.

Ou seja, restringe, de uma só vez, dois dos instrumentos jurídicos mais importantes: a prisão preventiva e a delação premiada. Foi isso que ocorreu na Itália.

Se estes movimentos tiverem sucesso, o breve que sempre falei será ainda este ano. E, para insistir, em breve o Brasil voltará a ser o que era antes da Lava-Jato, o país da impunidade. Deverá piorar a posição que ocupa no ranking dos países corruptos, atualmente 76oº.

E os seus cidadãos, tolos, assistirão na poltrona o noticiário de milhões e bilhões de reais desvirtuados das escolas e dos hospitais, e os políticos em festas.

Postagens relacionadas

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Possível liberação do aborto de fetos com microcefalia pelo STF é criticada na CAS

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Saiba mais