A apresentação do relatório da Reforma da Previdência na Comissão Especial na semana passada, mantendo a potência fiscal esperada (em torno de R$ 1 trilhão), acabou não sendo suficiente para evitar novos ruídos.
Embora o avanço da reforma tenha sido uma vitória para a equipe econômica e os defensores no Congresso da nova Previdência, o ministro da Economia, Paulo Guedes, mostrou irritação com a exclusão do sistema de capitalização, entre outras modificações incluídas no texto do relator, Samuel Moreira (PSDB-SP).
Na última sexta-feira (14), o ministro afirmou: “Não vou criticar, eu vou respeitar a decisão do Congresso, da Câmara dos Deputados. Agora, é importante que, aprovada a reforma do relator, abortaram a nova Previdência. Mostraram que não há o compromisso com as futuras gerações, é o compromisso com servidores públicos do Legislativo, que parece maior do que com as futuras gerações.”
A manifestação do ministro gerou uma reação imediata do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que afirmou que “o governo virou uma usina de crises permanentes que não atingirão a Câmara dos Deputados”. Maia também criticou publicamente o ministro Paulo Guedes, ao dizer que o comandante da equipe econômica tem uma visão distorcida do que é diálogo e democracia.
Embora gere ruídos, a troca de farpas entre Paulo Guedes e Maia não ameaça a aprovação da Reforma da Previdência. Aliás, o próprio Maia, em sua resposta a Guedes, garantiu que a aprovação do texto no primeiro semestre está garantida.
Outro ponto que joga a favor da reforma é o ambiente favorável existente na opinião pública. Na sexta-feira, a greve geral convocada contra a reforma teve uma adesão pequena, reforçando o clima social positivo em favor da nova Previdência.
No entanto, o bate-boca público entre Guedes e Maia, os dois principais players na negociação da reforma, sinaliza mais uma vez que o governo segue com problemas na articulação política.
Como a negociação da reforma passa diretamente por Guedes e Maia, sem ter um líder partidário de peso que faça a intermediação da relação entre os Poderes, atritos como esse podem continuar ocorrendo durante as negociações. Assim, mesmo que Guedes tenha colhido uma vitória com o andamento da reforma na semana passada, a questão da falta de articulação política continua sendo um dificultador para que o governo conquiste os 308 votos necessários para aprovar a nova Previdência no plenário da Câmara.
Além da questão da Previdência e dos problemas na articulação política, que acabam atingindo Paulo Guedes, o ministro continuará a ser pressionado por uma solução para problemas econômicos de curto prazo que afetam a população. É o caso, por exemplo, do elevado nível de desemprego.