A pesquisa divulgada hoje (25) pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), instituto criado pela ex-diretora do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, aponta que o ex-presidente Lula (PT) lidera a sucessão de 2022. Ele aparece com uma vantagem de 26 pontos percentuais sobre o presidente Jair Bolsonaro (Sem partido).
Chama atenção que a intenção de voto em Lula é idêntica à avaliação negativa do governo Bolsonaro (49%). Por outro lado, os que declaram voto em Bolsonaro representam o mesmo percentual daqueles que avaliam positivamente seu governo (23%).
CANDIDATOS | INTENÇÃO DE VOTO (%) |
Lula (PT) | 49 |
Jair Bolsonaro (Sem partido) | 23 |
Ciro Gomes (PDT) | 7 |
João Doria (PSDB) | 5 |
Luiz Henrique Mandetta (DEM) | 3 |
Branco/Nulo | 10 |
Indecisos | 3 |
*Fonte: Ipec (17 a 21/06)
Vale registrar que os números apresentados pelo Ipec diferem dos últimos levantamentos realizados por institutos como Ipespe, Ideia Big Data e Paraná Pesquisas, que mostraram um quadro de empate técnico entre Bolsonaro e Lula no primeiro turno. No entanto, a sondagem do Ipec converge com os números do Datafolha divulgados em maio.
Os candidatos que sonham em ser a terceira via à polarização bolsonarismo x lulismo mostram pouca densidade eleitoral. O governador de São Paulo (SP), João Doria (PSDB) e os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Luiz Henrique Mandetta (DEM) aparecem tecnicamente empatados. Somados, eles contabilizam apenas 15% das intenções de voto. Contudo, as intenções de voto de Doria, Ciro e Mandetta, mais o índice de eleitores “sem candidato” (brancos, nulos e indecisos), totalizam 28%.
Ou seja, um terço da opinião pública está localizada fora da polarização Bolsonaro x Lula. Mesmo que exista uma demanda pela terceira via, o mercado eleitoral ainda não é capaz de ofertar um nome competitivo para ocupar esse espaço.
Porém, há um aspecto a ser observado. Quando o Ipec mede o potencial de votos dos candidatos, os três nomes da terceira via – Ciro, Doria e Mandetta – apresentam um grau de desconhecimento muito elevado se comparado com os índices de Bolsonaro e Lula.
Desses nomes, conforme podemos ver na tabela abaixo, quem tem o maior potencial eleitoral hoje é Ciro Gomes, o que pode ser explicado pela sua exposição por meio dos comerciais que o PDT tem divulgado nas redes sociais desde a contratação do marqueteiro João Santana.
CANDIDATOS | COM CERTEZA VOTARIA (%) | NÃO VOTARIA DE JEITO NENHUM (%) | NÃO CONHEÇO O SUFICIENTE (%) |
Lula | 61 | 36 | 3 |
Bolsonaro | 33 | 62 | 4 |
Ciro | 29 | 49 | 21 |
Doria | 18 | 56 | 26 |
Mandetta | 13 | 47 | 39 |
*Fonte: Ipec (17 a 21/06)
Mesmo que Ciro, Doria e Mandetta sejam menos conhecidos, a tendência aponta para um cenário de polarização entre Bolsonaro e Lula, pois a terceira via não possui candidato natural, unidade e muitos menos narrativa para fazer frente ao bolsonarismo e o lulismo.
Hoje, Lula está em vantagem na sucessão, o que até certo ponto é natural pelo fato de ser o principal antagonista do bolsonarismo e estar em grande evidência nos meios de comunicação desde que o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro foi declarado suspeito pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nas sentenças proferidas contra o ex-presidente, anulando suas condenações.
No entanto, é importante ressaltar que Bolsonaro vive seu pior momento e temas como a recuperação da economia e o avanço da vacinação podem reverter a desvantagem que o presidente possui hoje, fruto de sua elevada rejeição, a maior entre os potenciais candidatos.
Por outro lado, há novos desafios para Bolsonaro como, por exemplo, as denúncias de supostas irregularidades na aquisição da vacina indiana Covaxin, o que pode dar munição para a CPI e atingir a bandeira da anticorrupção, um dos grandes atributos positivos de imagem de Bolsonaro.
Um aspecto a ser observado é que, dada a conjuntura atual, as forças de centro que almejam quebrar a polarização Bolsonaro x Lula têm mais interesse em que o presidente seja atingido pela CPI da Covid do que o próprio PT. Como PSDB e DEM perderam parte de seu eleitorado para o bolsonarismo desde as eleições de 2018, recuperar esse espaço na polarização com o PT depende de Jair Bolsonaro ser atingido de modo a comprometer sua competitividade eleitoral, cenário esse que hoje é improvável por conta da resiliência que o presidente da República demonstra em meio à uma conjuntura de graves crises sobrepostas.