“Perda de influência da Lava-Jato evitou nacionalização das eleições municipais”, avalia Murillo de Aragão

Os resultados do primeiro turno das eleições municipais mostraram que as questões políticas nacionais pouco influenciaram a decisão do eleitor. É o que avaliou o cientista político e CEO da Arko Advice, Murillo de Aragão em live da BTG Pactual.

Para Murillo, a derrota dos candidatos apoiados por Jair Bolsonaro não indica uma derrota do presidente. “Ele pode ter perdido a oportunidade de ter uma base melhor para si, na campanha de 2022. Ele não tinha partido, já que brigou com o PSL e não deu tempo de criar um novo. Mas os resultados no final são potencialmente bons pra ele. Os partidos que hoje gravitam em torno do governo Bolsonaro se saíram bem”, pontua.

Parte dessa desvinculação das eleições municipais com a política nacional ocorreu por enfraquecimento dos assuntos que antes eram destaque na mídia, avalia Aragão.

“Um fator que contribuiu para essa ‘não nacionalização’ foi o enfraquecimento midiático da Lava-Jato. Por um tempo, ela funcionou como um tema que impulsionou a raiva do eleitor contra a política tradicional. Hoje a Lava-Jato já não tem mais aquele espaço midiático que tinha – não é mais novidade. Também porque a operação foi desmoralizada pelas atitudes que tomou e pelos problemas que apresentou em seus processos”, pontua.

Enfraquecimento da esquerda

Na avaliação de Murillo, a tendência ao centro que é vista nas eleições municipais veio em conjunto ao enfraquecimento dos partidos de esquerda. No total, o número de prefeitos eleitos pelos partidos desse campo político no primeiro turno passou de 1199 em 2016 para 842 em 2020 – queda de 42% no desempenho.

“Hoje a esquerda tem pouco mais do que o PT tinha a duas ou três eleições atrás. Eles perderam a narrativa que tinham e o Ciro Gomes não consegue estabelecer uma narrativa nacional” calcula.

Aragão avalia que o bom desempenho de Guilherme Boulos (PSOL), em São Paulo, e de Manuela D’Ávila (PCdoB) em Porto Alegre (RS), não significa um fortalecimento geral da esquerda.

“Boulos é um fenômeno particular de São Paulo e Manuela D’ávila é um fenômeno de Porto Alegre. O desempenho deles não mostra uma aderência do eleitor geral a uma ideologia de esquerda”, pontua.

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