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Na semana passada, antes das declarações de Moro, Bolsonaro já caminhava em direção ao establishment político. Ele se reuniu com líderes do Centrão a fim de buscar apoio e garantir melhor condição de governabilidade, fôlego político e blindagem contra eventuais CPIs e investidas pró-impeachment. As conversas com os principais partidos do bloco envolvem negociações de cargos do segundo escalão do governo em estatais importantes. Esse movimento representa uma grande mudança na relação do Planalto com o Congresso.
O relacionamento com as bancadas setoriais, as chamadas “frentes parlamentares”, que, na prática, produziram poucos resultados positivos para a governabilidade, começa a ser substituído pelo diálogo com presidentes nacionais dos principais partidos do Centrão e com seus líderes partidários. Trata-se de um retorno ao modelo tradicional do presidencialismo de coalizão, criticado por Bolsonaro durante sua campanha.
Os líderes desse grupo já começam a acenar para o governo. Com o aumento da temperatura política em função da saída de Moro, alguns já se manifestaram no sentido de desestimular ideias sobre o afastamento de Bolsonaro da Presidência, alegando que o momento de pandemia não comporta tanta instabilidade política.
Sem dúvida, a adesão do Centrão ao governo fortalece a retaguarda de Bolsonaro no campo político, mesmo ao custo do desgaste de sua imagem diante de parcela do seu eleitorado. Esse apoio, porém, oferece apenas uma segurança relativa. Como já mencionado, o grupo se move ao sabor dos ventos. Deu apoio a governos anteriores e pulou do barco em momentos cruciais.
O contingente de parlamentares do Centrão, juntamente com aliados governistas de outros partidos, hoje garante a Bolsonaro os votos necessários para barrar um impeachment. São necessários 171 votos na Câmara para aprovar a abertura do processo e outros 27 para evitar a cassação pelo Senado. Entretanto, é preciso enfatizar que não se trata de grupo coeso, mas de bloco em que as divergências são muito comuns. Caso a situação se torne mais complexa e adversa para o governo, o instinto de sobrevivência política prevalecerá e a tendência natural será o desembarque, como em ocasiões passadas. |